Tomámos a apologia ao bigode como ponto de partida e lembrámo-nos de Valdir. Por motivos óbvios. O ponta-de-lança brasileiro faz dessa cartilagem pilosa a sua imagem de marca. Até hoje.
Mas recuemos 13 anos no tempo, até à segunda metade da época 1996/97.
A situação do Benfica no campeonato está complicada. O F.C. Porto já vai longe, o Sporting toma conta do segundo lugar e os dirigentes encarnados reforçam o ataque com Valdir. Credenciado por uma passagem brilhante pelo Vasco da Gama, o brasileiro chega e é lançado de imediato por Manuel José. Nos curtos meses na Luz faz cinco golos em seis partidas oficiais. Mas não continua.
A selecção impossível, Jardel e a política

«O Benfica não estava nada bem financeiramente», recorda em declarações ao Maisfutebol. «Sempre fui bem tratado, adorei o pouco tempo que passei na Luz, mas é verdade que o clube atravessava uma fase má.» Tão má, tão má que acabou a temporada a uns impensáveis 26 pontos do F.C. Porto!
«O Porto tinha uma equipa fortíssima, mas ainda lhe marquei dois golos. Um na taça (n.d.r. para a Taça de Portugal, no Estádio das Antas) e um no campeonato. Esse foi o meu melhor jogo em Portugal. Joguei um bolão, estive imparável. Também joguei muito contra o Dragões Sandinenses. O jogo foi à tarde e estava muito sol. Sempre adorei jogar com sol.»
«João Vieira Pinto foi o melhor com quem joguei»
As memórias são vozes do passado. Chamam por nós e nós vamos. Quanto mais fala, mais Valdir quer falar. «Não deu para eu ajudar muito. Tínhamos bons jogadores mas aquilo não funcionava», lamenta, num tom sério. «Era muita gente de qualidade. Ronaldo, Valdo, Preud'Homme, Edgar, João Pinto...»
Ao falar de João Vieira Pinto, Valdir aumenta bruscamente a intensidade do discurso. «Esse menino foi o que mais me impressionou. Foi o melhor jogador com quem tive o prazer de partilhar o vestiário. Também gostava muito do Edgar, o moreninho. Sei que depois saiu para o Real Madrid, mas nunca mais soube nada. Que é feito dele?»
Feita a actualização, seguimos em frente e a conversa desagua em Manuel José. Um sorriso audível do outro lado do oceano abre as hostilidades. «Grande personagem, grande treinador! Há três anos eu estava a jogar nos Emirados Árabes Unidos e soube que ele andava pelo Egipto. Tentei arranjar o número de telefone, mas não consegui. O homem cobrava muito nos treinos.»
Valdir fala do ex-seleccionador de Angola com evidente admiração. Por isso, não entende as razões que o levaram a ser tão mal sucedido na Luz. «Ele brincava bastante, mas no trabalho ninguém abria a boca. Não era por ele que o Benfica não ganhava. É difícil falar, mas no dia-a-dia eu via coisas estranhas», confidencia o antigo avançado, sem grande vontade de entrar em mais pormenores.
Campo Grande: a estação do início de uma carreira
«Nunca consegui viver sem golos.»
Na verdade, a frase parece mais do que mera oratória para jornalista ver. Valdir é um dos melhores marcadores de sempre do Vasco da Gama (135 golos em 267 jogos) e, mesmo na fase descendente da carreira, nunca deixou de fazer abanar as redes contrárias.
«Cheguei velhinho, velhinho aos Emirados e mesmo assim fui o melhor marcador do campeonato. Na segunda época fui o terceiro melhor e na terceira fui o segundo.»
Valdir jogou até há dois anos, até aos 35. Uma lesão no joelho atirou-o para a reforma. Esta segunda-feira iniciou uma nova carreira. Foi nomeado treinador do Campo Grande e está com «o entusiasmo de uma criança».
«Somos uma equipa da zona oeste do Rio de Janeiro. Vamos disputar a segunda divisão do campeonato carioca. O clube representa a zona rural do estado.»