Há jogos que, por tudo o que envolvem, só podem pertencer a uma competição. O jogo de Valença não enganava: festa no exterior, espectadores de pé à volta do relvado, grupos de percussão e duas equipas de escalões diferentes. Este era um jogo de Taça de Portugal. Cheirava a Taça e houve Taça.
A lotaria dos penalties acabou por sorrir ao Valenciano, mas é justo reconhecer que foram os da casa que mais mereceram a sorte. Nunca deixaram transparecer as diferenças que existem entre as duas equipas, uma do escalão máximo do futebol nacional e outra que ainda no ano passado estava nos distritais.
A arte de bem defender e muito contra-ataque
Jorge Costa tinha avisado que o Valenciano defendia bem, sustentando-se nos dois únicos golos sofridos pela equipa no campeonato. A arte de bem defender, misturada com o veneno do contra-ataque, foi realmente o grande segredo da equipa da casa.
A desvantagem no marcador ao intervalo, após um golo de grande penalidade marcado por Messi, não representava aquilo que se tinha visto em campo. Era sem dúvida penalizadora para o Valenciano. Destemidos, os homens de Berto Fernandes apareceram dispostos a mostrar que o objectivo era mesmo ganhar o jogo e deixar uma boa impressão.
Ruizinho deu nas vistas nas acções do meio campo e foi mesmo o melhor em campo. Pode ser um nome a ter em conta para voos mais altos, a confirmar as indicações deixadas. Mas, no primeiro tempo, foi Linhares quem esteve mais perto do golo. Aos onze minutos, na transformação de um livre descaído para a direita, o defesa esquerdo da casa tirou tinta à barra da baliza à guarda de Ventura.
A justiça na segunda parte
Neste período, o melhor que o Olhanense conseguiu chegou pelos pés de Paulo Sérgio. O extremo algarvio esteve irrequieto e, juntamente com Messi, foi o principal dinamizador do ataque da sua equipa. Greg passou completamente ao lado do jogo e Zequinha não foi o ponta de lança que o Olhanense precisava. Veio muitas vezes buscar jogo atrás, é certo, mas houve alturas em que se pedia uma presença mais destacada na área e o português não conseguiu corresponder.
A justiça chegou no segundo tempo, pelo pé de Hélder Oliveira. E de que forma! O central encheu o pé, numa bola rechaçada após canto e lançou a euforia entre os adeptos da casa.
E a festa nos penalties
O Valenciano aguentou-se bem e mereceu jogar o prolongamento. Faltou, sobretudo, imaginação aos de Olhão, que, com um futebol muito previsível, foram presa fácil para a bem organizada equipa de Valença. No tempo extra o Olhanense começou melhor, a pressionar mais, mas pertenceu ao Valenciano a melhor oportunidade. Pendura atirou ao ferro, com estrondo. Negado esse golo, todos acreditaram que não se registariam mais alterações até às grande penalidades.
Aí, foi a lotaria do costume. Mas é justo reconhecer que, desta vez, a sorte premiou quem mais a procurou. Rui Duarte e Paulo Sérgio falharam os respectivos remates, ambos defendidos por Vítor Nuno, Tchocamar bateu com sucesso a última grande penalidade e soltou-se a euforia. Fez-se Taça em Valença. A cidade está em festa: o Valenciano é o primeiro tomba-gigantes.
Ficha de Jogo:
Estádio Dr. Lourenço Raimundo, em Valença
Árbitro: Vasco Santos, assistido por Alexandre Freitas e Fernando Pereira
VALENCIANO: Vítor Nuno, Ricardinho, Hélder Oliveira, Luís Carlos, Linhares (Vítor Hugo, int.), Luís Ramos (Nuno Gomes, int.), Ruizinho, David, Tiago Lenho, Tchocamar e Everton.
Treinador: Berto Fernandes
OLHANENSE: Ventura, Miguel Garcia, Sandro, Anselmo, Stephane (Rodrigo, 111 min.), Rui Duarte, Messi, Pietravallo (Guga, 66 min.), Greg, Paulo Sérgio e Zequinha.
Treinador: Jorge Costa
Ao intervalo: 0-1
Marcadores: Messi (45, g.p.), Hélder Oliveira (57 min.)
Disciplina: Cartão Amarelo para Luís Ramos (12m), Linhares (23m), Ricardinho (45m), Nuno Gomes (62m); Anselmo (29m), Rui Duarte (41m), Sandro (77m).