O João José ainda não tem um ano, mas a vida já lhe apresentou um desafio que nem ele, nem a família, podem resolver sozinhos. Os médicos diagnosticaram-lhe uma leucemia mieloblástica aguda e precisa de um transplante de medula. Os pais recorreram aos amigos e de imediato se gerou um movimento solidário à procura de um dador, que mobilizou o futebol português e chegou à Premier League.

Ouvimos falar do caso do João José em Outubro, no jogo Gil Vicente-Benfica, cerca de três meses após o diagnóstico. Além do enorme cartaz que estava colocado no relvado, ambas as equipas entraram em campo com camisolas a apelar: «Vamos ajudar o João José». Foram ainda distribuídos folhetos a divulgar uma ação de recolha de sangue que se realizaria essa semana em Barcelos, e o apelo foi repetido através dos altifalantes do estádio.

Mais de mil pessoas compareceram na ação de recolha que decorreu no Instituto Politécnico do Cávado e Ave, entre elas, os plantéis do Gil Vicente e do Óquei de Barcelos. A adesão foi tão surpreendente que se tornou impossível recolher a amostra de sangue de todos, e por isso agendou-se uma nova data.

Desde então, ouvimos o apelo em vários estádios, de várias cidades, durante jogos da I Liga. Em Braga, em Moreira de Cónegos, em Guimarães... sempre a divulgar novas ações de recolha.

Em Guimarães, entre os cerca de 500 dadores estavam as equipas de futebol e voleibol do Vitória, do Moreirense e dos Piratas de Creixomil. Os jogadores do Sp. Braga, inscritos como dadores na altura da campanha para ajudar o filho de Carlos Martins, já não precisaram de o fazer.

E até na página oficial do Liverpool foi colocado um apelo feito pelo guarda-redes Brad Jones, o que, tendo em conta que o banco de dadores é mundial, aumenta as hipóteses de encontrar alguém compatível.

Mas como foi possível esta divulgação?

Jorge Pereira, amigo da família do João José, contou ao Mais Futebol que a maior parte da divulgação tem sido feita através do grupo do Facebook Vamos Ajudar o João José, que nos primeiros dias já tinha 10 mil membros. «No desporto, acabou por começar por mim», explicou. «O João (pai do bebé) pediu-me para tentar divulgar a causa junto do Gil Vicente, como o meu pai é vice-presidente do clube e, rapidamente, conseguimos ter em marcha um movimento que permitiu fazer a ação no jogo frente ao Benfica».

«Rapidamente» é mesmo o termo adequado. «Ele falou comigo ao final da tarde de quarta-feira e o jogo foi no sábado. Em termos de burocracias, o facto de ter havido recentemente a campanha do Carlos Martins facilitou as coisas na Liga. Todo o plantel do Gil Vicente aderiu e o César Peixoto e o Carlitos ajudaram a fazer a ponte com o Benfica, até porque já tinham jogado lá. Depois as pessoas foram passando a palavra e as coisas saíram das nossas mãos», explica.



E foi através do passa palavra que a mensagem chegou aos outros clubes. Bruno Tiago, ex-jogador do Gil Vicente e do Sp. Braga, falou do caso ao corpo clínico dos arsenalistas. No Moreirense, a iniciativa foi do treinador Jorge Casquilha que tomou conhecimento através dos amigos que tem em Barcelos.

Então e como soube o guarda-redes do Liverpool? «Nós nem o contactámos. As notícias foram-se espalhando e ele, como perdeu recentemente o filho por causa de uma leucemia, viu e tomou a iniciativa de fazer o apelo», explica Jorge Pereira.

O João José continua internado no IPO do Porto, mas a esperança continua, assim como as ações de recolha de sangue para encontrar um dador compatível.