«O futebol está a andar no sentido contrário». É assim que o presidente do Leixões, Carlos Oliveira, reage às propostas de alteração aos regulamentos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) que prevêem o condicionamento da inscrição dos clubes nas competições ao cumprimento dos compromissos salariais. O dirigente considera que as novas regras irão fechar portas de muitos clubes e colocar futebolistas no desemprego. E aponta responsabilidades à Liga.

Em declarações ao Maisfutebol, o dirigente disse que os clubes devem cumprir as suas obrigações. Mas invoca as especificidades actuais da economia para reclamar prudência na altura de impor regras mais apertadas aos clubes. «Sou de opinião que todos nós temos de cumprir as nossas obrigações. Existem os organismos competentes para obrigar a esse cumprimento. Agora, criar mecanismos especiais que contrariem as regras da economia e da gestão não me parece, neste momento, adequado, porque não há mecanismos que permitam a recuperação tão rápida das instituições», aponta.

«Se toda a gente neste momento pede tempo para se adaptar e se reorganizar não me parece que este princípio vá levar a algum lado», sublinha Carlos Oliveira. «O futebol está a andar no sentido contrário», reforça o presidente do Leixões, para quem «há um exagero de forma» nas propostas da direcção da LPFP que vão ser discutidas na assembleia-geral do organismo, na próxima segunda-feira.

As propostas de alteração aos regulamentos prevêem penalizações na próxima época para os clubes que tenham mais de três meses de salários em atraso. Mas a falta de pagamento de ordenados poderá levar à não admissão nas competições profissionais. «Se implementarem estas medidas com essas condições vai acontecer que muitos clubes não vão conseguir alcançar os pressupostos para participar na I Liga nem na Liga de Honra», diz Carlos Oliveira.

Três grandes a jogar com clubes da III Divisão

«Não estou a ver que os clubes da II Divisão tenham condições para defrontar os adversários das ligas superiores. Estou a ver que se calhar vamos ter os três grandes a disputar o campeonato nacional com os actuais clubes da III Divisão», atira o dirigente.

Na opinião do máximo responsável do clube de Matosinhos, a consequência da imposição de regras mais restritivas aos clubes com salários em atraso será danosa para o futebol português. «Eles vão apertar e o que vai acontecer é que vamos ter mais jogadores no desemprego, porque vão desaparecer clubes».

O dirigente defende que os salários devem ser pagos a tempo e horas, mas salienta que muitas das actuais direcções estão a tentar corrigir «problemas herdados» e que, para isso, necessitam de tempo. E, relativamente a esses problemas, Carlos Oliveira considera que a LPFP não pode isentar-se de culpas, porque lhes fez «vista grossa». «A liga tem responsabilidades, porque aprova orçamentos de clubes que sabe antecipadamente que não podem cumpri-los».