Passaram três anos e tal e de Ricardo Vaz Tê nem sinal, numa adaptação livre da música de Luísa Sobral. Um longo calvário de lesões conduziu o jogador ao lado escuro da vida. O avançado chegou a ser confrontado com o anúncio mais difícil. «Disseram-me para procurar um emprego fora do futebol.»

Tinha 22 anos e o mundo como o conhecia... ruiu. Felizmente para ele, as notícias da morte da carreira de futebolista também eram claramente exageradas. «Rezei, rezei muito», conta. «Sou um homem de fé, acredito em Deus. Então refugiei-me nele. Ser jogador é tudo o que sempre quis e sempre sonhei.»

Vaz Tê: «Voltar à selecção? Priceless!»

Por detrás desta tormenta estiveram duas lesões. A última obrigou-o a parar durante dois longos anos. «Foi uma degradação do menisco. Muito mais grave do que uma rotura de ligamentos. Por causa de operação que tinha feito aos 18 anos, fui ficando sem menisco e só já tinha osso.»

Os médicos foram corrosivos. «Tens de parar, nunca mais vais conseguir jogar futebol e só te estás a desgastar. É melhor começares a procurar um emprego.» Vaz Tê não desistiu. «Fui aos Estados Unidos ser observador por Richard Steadman, que tinha operado Ronaldo Fenómeno, Shearer e Larsson.»

«Ele deu-me a luz ao fundo do túnel. Disse-me que acreditava e que ainda podia dar. Operou-me e deu-me um plano de recuperação de dezoito meses que tinha de seguir à risca. Aprendi a cuidar do meu joelho e a tomar conta de mim. Hoje diz-me que posso jogar futebol até aos 34 anos», confessa.

Dez golos na luta pelo prémio de melhor marcador

No fim do longo calvário, Vaz Tê está recuperado da lesão e do choque. Ao serviço do Barnsley, da segunda liga inglesa, já apontou dez golos em vinte jogos: é aliás o terceiro melhor marcador do campeonato. «Agora é a fase mais feliz da minha vida», sorri em conversa com o Maisfutebol. «De certeza.»

«Chegar a Inglaterra com 16 anos e passar dos juniores do Bolton para os seniores não foi fácil. Por isso essa também foi uma fase muito boa da minha carreira. Mas voltar a marcar golos e a jogar tão bem depois de tanto tempo no escuro, é uma alegria enorme. É uma coisa que não tem preço.»

Nos últimos vinte dias, aliás, Vaz Tê marcou cinco golos: apontou três na vitória sobre o Leeds para o campeonato e mais dois na derrota com o Swansea. «As coisas estão a correr bem, estou a jogar e a ser consistente. O talento e o jeito para jogar futebol sempre estiveram aqui, faltavam os jogos.»

Meio ano no Panionios e mais meio ano no Hibernian fizeram-no acreditar. «Na Grécia pude voltar a jogar, e estou grato por isso. Mas eu queria algo mais. Na Escócia encontrei pessoas espectaculares, que perceberam que precisava de muito ginásio e trabalharam comigo. Mas também queria mais.»

«Sei exactamente o que quero para o meu futuro. Quero jogar num campeonato competitivo e estimulante. O Barsnley deu-me oportunidade de fazer uma pré-época pela primeira vez em quatro anos. Estou feliz aqui. Mas não escondo o sonho de voltar a jogar na Liga inglesa», termina: e finalmente sorri.

Veja um hat-trick de Vaz Tê: