O despacho que revoga a suspensão do estatuto de utilidade pública desportiva da Federação Portuguesa de Vela (FPV) foi publicado nesta terça-feira em Diário da República, um dia depois de os 15 velejadores que integram o projecto olímpico terem suspendido a actividade, por não estarem a receber as verbas determinadas.

Em causa, além do arrastamento da situação de ilegalidade da FPV, está um vazio operacional que dura há cerca de um mês. Face à situação da Federação, foi o Comité Olímpico de Portugal quem assumiu a gestão das verbas, mas esse protocolo terminou a 18 de Maio, e desde então não foram canalizadas verbas para os atletas.

Gustavo Lima, um dos 15 atletas envolvidos, lamentou que as soluções para a falta de financiamento na vela estejam a ser procuradas com um mês de atraso. «Os velejadores não têm condições para subsidiar o projecto olímpico no qual estão por mérito próprio», afirmou o velejador da classe Star, em declarações à Lusa, adiantando que «a maior parte dos atletas que estão integrados no Projecto Londres 2012 já adiantaram verbas entre 30 e os 60 mil euros».

Acrescentou ainda que as bolsas olímpicas estão em dia e que as verbas que estão em atraso são relativas à actividade desportiva, lembrando ao mesmo tempo que «este é um problema que se arrasta há dois anos», e acusando o presidente da Federação de «arranjar uma confusão e prejudicar a vela», por não ter adequado dentro dos prazos os estatutos ao novo regime jurídico das federações, o problema na origem desta situação.

José Manuel Leandro, o presidente da FPV, acredita que agora tudo se resolverá. «Estou confiante que as coisas se resolvam rapidamente. Espero reunir com o Instituto do Desporto e com o Comité Olímpico ainda hoje ou amanhã. A revogação da suspensão já foi publicada e é essa a relevância que queremos dar», afirmou, citado pela Lusa. O dirigente defende que a Federação «deu tudo o que tinha e não tinha para minimizar os estragos» na preparação olímpica e prevê que tudo volte à normalidade «dentro de dias».

Vicente de Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal, mostrou-se por sua vez desagradado com os atletas. «O Comité Olímpico está profundamente magoado e quase que se arrepende de se ter envolvido neste processo. Se há culpados, têm de ser encontrados na Federação Portuguesa de Vela. Nós tentámos ajudar e não estávamos à espera da incompreensão dos atletas, que mostra um pouco falta de carácter. Desaponta-me profundamente e fazem com que o Comité Olímpico se vá afastar deste processo», afirmou.

A FPV volta a gozar do estatuto de utilidade pública desportiva um ano depois da suspensão, e um mês depois de ter adequado os estatutos. O processo arrastava-se desde Dezembro de 2008, quando entrou em vigor o novo regime jurídico das federações desportivas.