É estanho que algo que acontece no início de janeiro seja logo apelidado de «maior aventura do ano». Contudo, quando surge o nome Dakar, eventuais dúvidas ficam dissipadas. A mais dura prova de Todo o Terreno do calendário Mundial tem início marcado para 5 de janeiro, pelo sexto ano seguido na América do Sul.

Ao contrário do que inicialmente se poderia pensar, a passagem da prova para terras sul-americanas não a feriu. O número de participantes é maior, os pilotos aprovam os novos trilhos que têm uma particularidade interessante: público.

Ao contrário do que acontecia em África, as etapas do Dakar na América do Sul têm espectadores. Muitos, até. A maioria, aliás, é aficionada e não apenas uma massa de gente curiosa. E isso que faz a diferença.

Ruben Faria, por exemplo, garante que aspetos bem positivos no Dakar sul-americano: «Em África era capaz de partir para uma etapa de 500 km e não ver ninguém ao longo do percurso. Ia completamente sozinho. Na América do Sul há mais aficionados que fazem acampamentos no meio do deserto para ver passar os pilotos.»

A somar a isto há as diferenças nas características próprias das etapas. Atualmente a prova é mais difícil porque os pilotos podem encontrar condições muito diferentes de uns dias para os outros: sol, chuva, até neve em algumas zonas. Para não falar no deserto do Sal de Unyuni que se estreia na edição deste ano.

Deserto de Atacama e salar de Unyuni: os grandes obstáculos



Os números mostram a dimensão desta prova, caso dúvidas houvesse. No dia 5 de janeiro, partirão de Rosário, na Argentina, 438 carros, 175 motos, 41 moto4 e 71 camiões.

A organização da prova tentou, este ano, diferenciar ao máximo a prova de outras, que considera de corrida pura, como o motocrosse ou o Mundial de Ralis. O Dakar tem de ser mais. Tem de ser uma aventura.

Para tentar colar o Dakar sul-americano, que vai para a sexta edição, ao original, foram criadas duas etapas-maratona. No ano passado, por exemplo, existiu apenas uma e quase hipotecou as possibilidades de vitória de Cyril Després, que acabou por ganhar.

Uma etapa-maratona prolonga-se por dois dias. Durante a parte de descanso, ao contrário dos restantes dias, os pilotos não podem receber qualquer assistência dos mecânicos da equipa. Uma avaria pode, por isso, ter um prejuízo bem maior numa destas etapas.

O deserto de Atacama, no norte do Chile, mantém-se como uma das zonas onde serão esperadas maiores dificuldades para os pilotos. É considerado o deserto mais alto e seco do mundo.

Este ano, pela primeira vez, com a introdução da Bolívia no mapa do Dakar, que vem substituir o Peru, os pilotos irão passar pelo salar de Uyuni. Trata-se do maior deserto de sal do mundo.

Feitas as contas, os carros irão percorrer 9.374 km, sendo que 5.552 serão cronometrados. As motos andam um pouco menos: 8.734 km, incluindo 5.228 de “especiais”. Para as duas vertentes e também para camiões e moto4 irão decorrer 13 etapas, com um dia de descanso pelo meio (11 de janeiro).

As etapas do Dakar

5 JAN: Rosário (ARG)-San Luis (ARG)
6 JAN: San Luis (ARG)-San Rafael (ARG)
7 JAN: San Rafael (ARG)-San Juan (ARG)
8 JAN: San Juan (ARG)-Chilecito (ARG)
9 JAN: Chilecito (ARG)-Tucumán (ARG)*
10 JAN: Tucumán (ARG)-Salta (ARG)*
11 JAN: descanso
12 JAN: Salta (ARG)-Uyuni (BOL)*
13 JAN: Uyuni (BOL)-Calama (CHI)*
14 JAN: Calama (CHI)-Iquique (CHI)
15 JAN: Iquique (CHI)-Antofagasta (CHI)
16 JAN: Antofagasta (CHI)-El Salvador (CHI)
17 JAN: El Salvador (CHI)-La Serena (CHI)
18 JAN: La Serena (CHI)-Valparaiso (CHI)

*- Etapas Maratona

Nove portugueses, três candidatos

Cresceu a representação portuguesa no Dakar em relação ao ano passado, com mais um representante nos carros e dois nas motos. É, contudo, nas duas rodas que estão centradas as principais esperanças portuguesas.

Hélder Rodrigues, Ruben Faria e Paulo Gonçalves são candidatos a vencer, embora numa segunda linha, atrás de Cyril Després e Marc Coma, esses sim os principais favoritos.

Ainda assim, Hélder Rodrigues, por exemplo, não foge ao objetivo assumido: «Ninguém mais do que eu quer a vitória. É um objetivo difícil, todos nós o sabemos, mas é esse que nós queremos e é para esse que lutamos.»

O piloto da Honda, que já conseguiu dois terceiros lugares (2011 e 2012) vai contar com o argentino Javier Pizzolito como «mochileiro», isto é, preparado para lhe prestar toda a assistência e ajudá-lo a vencer.

Paulo Gonçalves, também da Honda mas numa outra equipa, terá funções idênticas para o espanhol Joan Barreda. O título de campeão do mundo de Todo-o-Terreno não lhe serviu para atingir outro estatuto e as suas ambições a ganhar podem sair furadas.

«Os primeiros dias vão ser decisivos e tudo pode mudar. Depende como correr a cada um. Mas o que está estipulado é que se o Barreda estiver em condições de lutar pela vitória e eu estiver mais atrasado, tenho de o ajudar», explicou ao Maisfutebol.

Ruben Faria, que, curiosamente, até conseguiu o melhor resultado de sempre de um português na edição do ano passado, quando foi segundo, tem passado mais discreto por estes dias de antecipação da prova, o que condiz com o estilo do algarvio, este ano com estatuto de um dos chefes de equipa da KTM.

Na edição de 2013, Faria foi «mochileiro» de Després e acabou em segundo. Este ano sofreu uma fratura no pulso que lhe condicionou a temporada, mas está recuperado para o Dakar.

A presença portuguesa na prova não se fica por aqui. Nas motos estão inscritos ainda Pedro Bianchi Prata (Husqvarna), Mário Patrão (Suzuki), Victor Oliveira (Husqvarna) e Pedro Oliveira (Speedbrain).

Nos carros, Carlos Sousa (com Miguel Ramalho) continua a ser a principal figura, assumindo o objetivo de terminar no top-10 final. Foi sexto nas últimas duas edições ao serviço da chinesa Great Wall, onde ainda continua. 

Francisco Pita (com Humberto Gonçalves) é o outro piloto luso em prova. Há ainda a registar a presenta dos navegadores Paulo Fiúza, que vai estar com o argentino Orlando Terranova, e Filipe Palmeiro, copiloto do polaco Martin Kaczmarski, ambos na X-Raid.