Valsa azul e branca no Prater. Europa rendida ao calcanhar heroico de Madjer, às arrancadas de Paulo Futre, ao instinto mortífero de uma arma secreta chamada Juary. O FC Porto a cobrir de espanto a Taça dos Campeões Europeus num jogo memorável diante do Bayern Munique.

E do outro lado, como terá sido engolida a afronta dos portugueses? O Maisfutebol aproveita o regresso a Viena para reavivar memórias feridas. 26 anos depois, dois dos protagonistas do gigante bávaro ainda hesitam na busca de respostas.

Ludwig Kogl fez o único golo do Bayern, antes do intervalo; Jean-Marie Pfaff viu, a centímetros, Madjer engatilhar o calcanhar e Juary a surgir, «como um relâmpago», para o golo mortal. Afável, bem humorado, o inesquecível guarda-redes belga recorda uma «derrota dura».

«Madjer, Juary, mas também Futre. Ficámos bons amigos ao longo dos anos. O Paulo tinha uma técnica e velocidade notáveis. Destruiu a nossa defesa na segunda parte», diz Pfaff, 59 anos e uma carreira repleta de conquistas atrás de conquistas.

«Nesse ano de 1987, veja bem, fui eleito o melhor guarda-redes do mundo. Tinha feito um grande Mundial em 86. Eu tinha muita confiança e, honestamente, depois de eliminar o Real Madrid nas meias-finais, pensei que ia ser campeão europeu», refere o belga.

Imagens de Jean-Marie Pfaff:



Ludwig Kogl era um esquerdino desconcertante. Da final de Viena guarda sentimentos díspares. Apesar do golo de cabeça, «uma raridade na minha vida», teve de suportar a reviravolta dos dragões.

«Eu tinha só 21 anos. Pensei: «ok, perdi esta mas vou ter muitas outras finais europeias. Enganei-me. Não tive mais nenhuma. Só mais tarde tive consciência do nosso falhanço», refere Kogl.

«Até aos 70 minutos acho que fomos superiores. Mandámos no jogo. Depois apareceram uns diabos azuis e brancos. Tornámo-nos passivos e não conseguimos reagir. Foram dois socos certeiros, atiraram-nos ao chão», sublinha o antigo extremo do Bayern, duas vezes internacional pela República Federal da Alemanha.

Para Pfaff, esta foi «a vitória internacional decisiva para o FC Porto ser famoso». E faz uma nova observação. «Não me levem a mal, mas se a final tivesse sido contra o Real Madrid, o Porto perdia. Eu ainda não sei como afastámos os espanhóis nas meias-finais. Fiz uma exibição memorável no Santiago Bernabéu. Perdemos 1-0 e podíamos ter levado seis ou sete».

A conversa prolonga-se e pedimos a Ludwig Kogl mais explicações para o desaire. «Fizemos pouco para ganhar. Acho que nos sentimos seguros com o 1-0. O FC Porto não era tão conhecido como é hoje. O Bayern não sabia quem eles eram», responde o ex-internacional germânico.

Sobranceria, certeza, alguma arrogância. Tudo junto resultou na queda do regime bávaro. «Só sabíamos que íamos jogar contra uns portugueses (risos). Verificámos depois que esses portugueses eram uma equipa de top, com jogadores de top. Infelizmente, já foi demasiado tarde».

O golo de Kogl em Viena:



Jean Marie Pfaff nunca foi conhecido por ser discreto. Excêntrico, adorador do risco, por vezes até espalhafatoso. Características que não o impediram de ser considerado um dos melhores guarda-redes de todos os tempos.

Características, também, que o levaram a viver num verdadeiro reality show durante dez anos. Entre 2002 e 2012, Pfaff abriu as portas de sua casa para um programa chamado Os Pfaffs. «Gozavam com isto, mas teve um sucesso incrível».

Ludwig Kogl deixou de jogar em 2001. Possui uma empresa de agenciamento de desportistas e vive a maior parte do tempo na Suíça. O tempo passa e os diabos azuis e brancos não lhes saem da cabeça.