CAMINHOS DE PORTUGAL é uma nova rubrica do jornal Maisfutebol que visita o dia-a-dia de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.

VILA FLOR SPORT CLUBE, A.F. BRAGANÇA

Uma vila de três mil habitantes e um emblema de 200 sócios (cálculo otimista); uma equipa de arreganho transmontano, arte brasileira e curiosidade burquinesa. Não há engano. O Vila Flor teve cinco brasileiros e um jogador do Burkina-Faso no plantel sénior. Foi com estas armas que subida ao Campeonato Nacional de Seniores ficou sentenciada.

O trajeto foi duríssimo e a consagração ficou reservada para a última jornada. O Vila Flor recebeu no seu magnífico sintético a Associação de Africanos e golo regenerador apareceu «a cinco minutos do fim», contra o presidente André Morais, como se estivesse viver tudo de novo.

«Estavam 700 pessoas no estádio, um recorde para o clube. Foi uma explosão linda, pois sabemos bem todos os problemas que vivemos ao longo do ano», diz o dirigente, sempre em sintonia com o técnico principal.

«Os jogadores estrangeiros só em janeiro puderam começar a jogar e fizeram toda a diferença», reconhece, sustentado nos números da época: 18 pontos na primeira volta, 26 na segunda. «Repare bem que nem lavandaria tínhamos. Mas, como costumo dizer, logo que o equipamento apareça ao domingo, por nós está tudo bem».

É este pragmatismo honesto que move o clube e o coloca no mais alto patamar do seu historial. Para trás, numa época histórica, ficam os relatos de verdadeiras epopeias. «Só tivemos guarda-redes no banco em cinco jornadas. Tivemos vários problemas».

«Num jogo da taça regional», conta André Morais, «o nosso titular foi expulso aos dez minutos e tivemos de meter um jogador de campo a defender. Não havia mais nenhum. Agora acho que o grupo uniu-se sempre mais depois destes episódios. O futebol é mesmo assim».

E há mais casos de extraordinária dedicação. «Um dos dos treinadores adjuntos dos seniores é jogador da nossa equipa de futsal e treinador dos juvenis. Num fase em que tínhamos vários ausentes ainda fez três jogos pelos seniores do futebol. O que se pode dizer de uma pessoa assim?» A paixão é descontrolada e não tem inibições.

E o feito da subida ganha maior relevo ainda quando sabemos que o futebol sénior esteve paralisado dois anos. Regressou no verão de 2012 e consumou à primeira tentativa a histórica ascensão.

A participação no Campeonato Nacional de Seniores vai coincidir com as celebrações do 50º aniversário do clube. «Temos seniores, juniores e juvenis em futebol e futsal. Vencemos cinco troféus regionais esta época. Nos 48 anos anteriores tínhamos sete. Somos um clube feliz», vinca André Morais.