[foto cedida pela UDV]

Esteve apenas um ano no Benfica, como júnior, mas andou às portas da equipa principal. Chegou a ser suplente num jogo da Liga, mas no final da época não resistiu a um convite para voltar para casa. Oito anos depois Wagner Silva voltou a mudar-se para Portugal, agora para vestir as cores do Vilafranquense, equipa que ajudou neste domingo a alcançar um feito histórico na Taça.

Já lá vamos. Primeiro recuemos até 2007, ano da primeira mudança de Wagner para Lisboa. «Foi tudo muito rápido. Vim para fazer um teste, cheguei numa quarta-feira e tinha treino às 10h. Foi logo treino de conjunto com a equipa principal. Na quinta-feira fui chamado para o treino dos seniores», recorda o central, em conversa com o Maisfutebol.

Wagner deu boas indicações e acabou por ficar. Na equipa de juniores, treinada por João Alves, com colegas como Leandro Pimenta, David Simão, Miguel Rosa ou André Carvalhas, entre outros.

«Eu dava-me mais com os outros brasileiros, o Airton e o Berto, e com o Vlad (Chiriches, internacional romeno atualmente no Nápoles).»

Wagner treinava regularmente com a equipa principal, e também aí procurava o apoio dos compatriotas, nomeadamente aqueles que ocupavam a mesma posição. David Luiz, Luisão e Edcarlos.

Com os dois primeiros lesionados, e com Zoro também indisponível por lesão, Wagner acabou mesmo por ser convocado para a visita ao Marítimo, da 23ª jornada, disputado a 16 de março de 2008. Fernando Chalana fazia o segundo jogo como treinador interino do Benfica – o primeiro na Liga -, após a saída de Jose Antonio Camacho. As «águias» vinham de uma derrota em Getafe, para a Taça UEFA, e nos Barreiros, com Edcarlos e Katsouranis como centrais, não foram além de um empate a uma bola.

«Tive de fazer um discurso para o grupo lá na Madeira, no estágio. Dizer o que sentia por estar ali pela primeira vez, essas coisas…», recorda Wagner, que no final da época acabou por deixar o Benfica.

«Existia a possibilidade de acionar a opção e eu ficar. Seria emprestado a outro clube (ndr. Não havia equipa B na altura). Só que surgiu a proposta do Internacional. Era perto de casa, um grande clube também…escolhi voltar. Na altura pareceu-me o melhor. Consegui ter mais visibilidade no Brasil, cheguei às seleções de base. Joguei treze vezes pela seleção sub-20. Foi bom, como teria sido se tivesse ficado em Portugal», diz.

Do pesadelo de Curitiba à rampa ribatejana, empurrado pela Taça

Wagner ao serviço da equipa B do Inter (foto: internacional.com.br)

O central faz um balanço positivo da passagem pelo emblema de Porto Alegre, embora tenha jogado sobretudo na formação sub-23. Pela equipa principal fez apenas cinco encontros, e também por isso decidiu sair em 2012, já depois de empréstimos a Sport e Ponte Preta.

«Também fui operado ao joelho. Se não fosse isso talvez tivesse sido mais aproveitado. Tinha mais dois anos de contrato mas achei que era altura de sair», justifica.

Depois de passagens pelo Pelotas e CSA, Wagner ganhou protagonismo no Mogi Mirim, da Série C. «Na primeira época tive propostas do Figueirense e do Ponte Preta, mas o Mogi Mirim não perdia há sete jogos e pensei na subida, pelo que decidi ficar. Na segunda época apareceu novamente o Figueirense e o Atlético Paranaense, por quem assinei», recorda.

Wagner apresentado como reforço do Atlético-PR [foto: atleticoparanaense.com]

O defesa estava de volta à elite do futebol brasileiro, mas a mudança para Curitiba revelou-se um pesadelo.

«Agiram de má-fé comigo. Assinei um pré-contrato com eles a seis meses do final da ligação ao Mogi Mirim, que ao saber me afastou da equipa. Estive três meses sem jogar. Depois chego ao Atlético e deram-me um contrato de quatro meses, disseram que era até eu recuperar a condição física. Fiquei um mês e vinte dias a trabalhar nesse sentido, e depois, quando fui ter com eles para acionar o pré-contrato, disseram-me que não iam cumprir, para eu entrar com um processo na justiça se quisesse.»

A ligação ao Atlético Paranaense ficou por aí. Wagner procurou refúgio no Capivariano, para participar no Campeonato Paulista, mas ressentiu-se psicologicamente. «Fiquei abalado. Não conseguia manter o foco, jogar ao meu nível», garante.

O regresso a Portugal surgiu então como uma solução indicada para recuperar o sorriso. «Tinha propostas do Brasil mas decidi sair. Vim à procura de um recomeço. Para chegar a um nível onde sei que ainda posso chegar. Já conhecia o Rodolfo (ndr. Frutuoso, presidente da SAD do Vilafranquense) e o Paulo Lima (fundador da Eurofoot, empresa que controla a sociedade desportiva ribatejana). Já me tinham contactado o ano passado, e agora achei que estava na hora de procurar um recomeço fora do Brasil», explica.

«Estou a voltar ao meu nível. Adaptei-me rapidamente», complementa o central, utilizado (e titular) em dez dos catorze jogos realizados pelo Vilafranquense. O último frente ao Paços de Ferreira, na vitória inédita do emblema ribatejano frente a uma equipa do principal escalão.

«São os jogos que todos os jogadores querem disputar. Estamos no Campeonato de Portugal, mas claro que preferia defrontar equipas da Liga todas as semanas. A motivação é mais alta. Para chegar longe tens de enfrentar desafios assim», assume.

O sorteio dos oitavos de final da Taça está marcado para a próxima quinta-feira, e Wagner quer fugir aos «grandes», a pensar numa inédita passagem aos quartos de final da prova: «Preferia outra equipa, como o Torreense ou isso, por ser do nosso escalão. Benfica ou Sporting ficavam mais para a frente. Seria bom jogar na Luz ou em Alvalade, mas agora temos hipóteses de chegar mais longe, de conseguir algo único na história do clube.»

Seja como for (ou seja quando for), Wagner assume que seria «muito especial» defrontar o Benfica.

E a camisola seria para trocar com Luisão, que não só partilha a nacionalidade e a posição no campo com Wagner, como é o único «resistente» dos seus tempos no Seixal? «Com certeza. É uma referência, um jogador com uma grande história no Benfica, um grande profissional.»

Para já o foco de Wagner volta a estar no Campeonato de Portugal, nos objetivos do Vilafranquense, mas o central, ainda só com 27 anos, não esconde a ambição de chegar a outros patamares, até porque essa é também a motivação estratégica da SAD ribatejana.

«Vim para aparecer. Quero ir passo a passo, chegar a um nível alto. Tomei algumas decisões imaturas, mas ainda posso chegar a outro nível», finaliza.