André Villas-Boas concedeu uma grande entrevista à TVI e ao Maisfutebol, onde abordou vários temas relacionados com o passado, o presente e o futuro.

O Zenit serve essencialmente para relançar a sua carreira?
«Não me parece um termo adequado, foi sobretudo o projeto que me foi apresentado e a ida para um campeonato de perfil baixo, embora competitivo, interessante. A minha escolha também se deveu a uma fuga ao mediatismo elevado, era algo importante para mim. De mediatismo alto e falsas promessas já vivi o suficiente.»

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Percebe-se então que não tem interesse em regressar por exemplo a Inglaterra, onde se falou do Liverpool.
«Não estou minimamente interessado em voltar a isso, voltar a Inglaterra não está seguramente nos meus planos. Tive conversas com o Liverpool, clube que admiro bastante, mas como disse, não está nos planos, embora saiba que a vida dá sempre muitas voltas. Gostei de treinar em Inglaterra, foi uma experiência positiva, mas também teve muito de negativo.»

Arrepende-se de ter saído do FC Porto naquela altura para rumar a Inglaterra e ao Chelsea?
«De forma alguma. Sou emotivo mas tomei a decisão em consciência, acho que foi a decisão certa. Claro que depois nunca se sabe o que vai acontecer, o que encontrei no Chelsea não foi o que eu desejava. Cheguei numa altura complicada para a vida privada do presidente, que raramente esteve presente. Isso afetou claramente. Mais tarde, fui surpreendido e ainda estou porque as intenções do presidente mudaram. Quando fui, a ideia era reformular a equipa.»

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E como avalia o seu percurso no Tottenham?
«O Tottenham conseguiu um recorde de pontos e vitórias na primeira época, ficou a um ponto da qualificação para a Champions e fez uma grande campanha na Liga Europa, até aos quartos-de-final, onde foi eliminada nas grandes penalidades com o Basileia. Na segunda época, à mesma jornada, tínhamos mais pontos que na época anterior. Acabei por sair por mútuo acordo - não houve despedimento - porque apoiei bastante a escolha do diretor desportivo que entretanto se vendeu a outras ambições, fazendo com que eu ficasse com jogadores sem o perfil desejado. Falo de Franco Baldini, que veio da AS Roma e que agora está numa posição fragilizada, de saída do clube.»

E a relação com o presidente do clube, neste caso?
«Quanto ao presidente, propôs-me um desafio para aumentar o nível competitivo do Tottenham mas logo saiu Modric e não conseguimos os alvos identificados por mim, nomes como João Moutinho, Willian, Óscar e Leandro Damião. Foram promessas que não foram cumpridas. Não era um grupo de jogadores escolhidos por mim e senti que devia sair em comum acordo. Em dois anos perdi Van der Vaart, Modric, Bale, e todas as promessas que foram feitas falharam. De qualquer forma, não olho para o Tottenham como uma experiência negativa. Era uma experiência que precisava de ter.»

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E para o futuro, pensa por exemplo em treinar no futebol italiano, onde já esteve?
«Não creio. O futebol italiano não está no seu melhor momento, não só em termos financeiros como também desportivos. A qualidade é questionável, pese embora o esforço de alguns treinadores no sentido de inverter isso.»

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Falta então apenas Espanha, dos grandes campeonatos
«Não vou por aí. Nesta altura preciso de desafios onde volte a conquistar títulos, é isso que marca a carreira de um treinador. O Zenit propõe-se a isso e estou grato e estimulado para esse desafio.»

Em 2011, então no FC Porto, manifestou o desejo de ter uma carreira de treinador relativamente curta, de cerca de uma década. Falou até em treinar em países como Argentina, Chile ou Japão. Continua a pensar assim?

«Terei seguramente uma carreira curta e irá surgir eventualmente outro campeonato, mas não me quero vincular como fiz nessa altura, iremos ver o que acontece. Não me vejo como treinador aos 50 anos. Penso que não. Veremos o que irei fazer, a vida proporcionou-me estabilidade financeira para abraçar outros desafios fora do futebol.»

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Treinar a seleção nacional é algo que entra no seu horizonte?
«Se alguma vez for proposto esse desafio, que considero aliciante, espero tomar uma boa decisão, mas não sei se sou digno de receber tamanho privilégio.»

Quanto terminar a carreira, como gostaria de ser recordado?
«Não ligo muito a isso. Só preciso de sentir orgulho no que atingi e estou bastante satisfeito com o que consegui, consegui em cinco anos de carreira o que mais ninguém conseguiu em igual período.»