Vitali Klitschko vai deixar os ringues de boxe para tentar chegar a presidente da Ucrânia e diz que desta é de vez. O atual campeão do mundo de pesos pesados pode sempre regressar: foi nomeado pelo organismo que tutela a modalidade «campeão emérito», o que significa que pode desafiar diretamente o futuro campeão, se um dia quiser voltar. Mas, aos 42 anos e a emergir como líder da oposição no meio da profunda agitação política seu país, é provável que tenha mais que fazer nos próximos tempos.

Klitschko é, antes de mais, uma lenda do boxe. O «Punho de aço», como era conhecido, detém o título mundial do WBC (World Boxing Council) desde 2008 e nunca perdeu um combate por KO. O seu registo é de 45 vitórias contra duas derrotas. Uma delas foi por se ter lesionado no ombro, outra por ter um golpe profundo junto ao olho, ambas foram declaradas derrotas por KO técnico.

Esta última, aliás, é histórica. Foi em 2003, quando Klitschko desafiava Lennox Lewis pelo título mundial do WBC. O ucraniano liderava, quando o árbitro decidiu que o corte que tinha no olho o impedia de continuar. Lewis foi declarado vencedor e, perante a controvérsia, chegou a admitir defrontar o rival em novo combate. Mas acabou por se retirar antes disso acontecer. Klitschko viria a sagrar-se campeão do mundo um ano mais tarde.



O último combate de Vitali no ringue foi em setembro de 2012, quando venceu o alemão Manuel Charr. Agora o boxe perde um Klitschko, mas para já mantém o outro. É que o irmão de Vitali, Wladimir, continua em atividade. Cinco anos mais novo, ele detém todos os outros títulos mundiais de pesos pesados, os que se jogam sob a égide das diferentes organizações internacionais: WBA, IBF, WBO e IBO. «O meu irmão Vladimir será responsável por mais sucessos desportivos», disse Vitali quando anunciou a sua decisão. 

Os dois irmãos formaram desde sempre uma dupla de sucesso, tanto do ponto de vista desportivo como de marketing. São ambos formados em ciência desportiva, exímios a jogar xadrez, bem falantes, dois excelentes veículos de promoção que estenderam rapidamente pontes para a Alemanha, onde são tão ou mais populares do que na Ucrânia. Vitali também é casado com uma antiga atleta e modelo, Natalia Egorova. A vida dos dois irmãos já deu um filme, o documentário Klitschko, realizado pelo alemão Sebastien Dehnhardt em 2011.



A inclinação política de Vitali já não é de hoje. Em 2005 já se tinha retirado uma primeira vez do boxe, na altura para concorrer a presidente da câmara de Kiev. Em 2010 concorreu a eleições locais já como líder do seu partido, que se chamava na altura Bloco Vitali Klitschko. Esse movimento deu origem ao atual partido de Vitali, o UDAR. Quer dizer Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma, mas as iniciais do partido escrevem também a palavra «murro», ou «golpe». É um partido de matriz liberal, que tem como bandeiras o combate à corrupção e a aproximação à União Europeia.

Nos últimos meses Klitschko acelerou a sua afirmação política. Em outubro anunciou que quer candidatar-se à presidência da Ucrânia, embora não seja claro que o possa fazer, porque é exigida residência de 10 anos no país e ele tem vivido alternadamente entre a Alemanha e a Ucrânia.

Entretanto, tem sido um dos principais rostos a sobressair do movimento que dia após dia, no último mês, leva milhares de pessoas à Praça da Independência, em Kiev. As manifestações começaram como forma de protesto ao recuo das autoridades ucranianas e do presidente Viktor Yanukovich na assinatura de um acordo alargado de parceria com a União Europeia, a troco de uma maior aproximação à Rússia de Vladimir Putin. A repressão violenta das forças policiais aos manifestantes, no final de novembro, teve como efeito mobilizar ainda mais os ucranianos para os protestos.

A Praça da Independência continua a ser local de reunião diário e têm passado por lá muitos políticos estrangeiros a apoiar os manifestantes. O último foi o norte-americano John McCain, senador republicano e ex-candidato à presidência dos Estados Unidos. Ao lado dele nas fotos estava Vitali Klitschko.

Agora que ele se despediu, recorde alguns dos grandes momentos da sua carreira: