O Vitesse ascendeu à liderança do campeonato holandês. A equipa de Arnhem deixa para trás adversários como AZ Alkmaar, Ajax, Feyenoord ou PSV Eindhoven. De forma clara?

A questão tem sido debatida com maior intensidade desde o início da presente temporada. Agora, com o Vitesse no topo da tabela classificativa, a polémica reacende-se. A montra do Chelsea está a causar impacto na Holanda.

Neste fim-de-semana, Christian Atsu aproveitou uma grande penalidade conquistada por Lucas Piazon. 1-0 frente ao Utrecht. Em comum, a ligação contratual ao emblema londrino.

O Vitesse tem seis jogadores emprestados pelo Chelsea. Seis jovens com potencial reconhecido e evidentes mais-valias para a formação de Arnhem. Os adversários levantam, por isso mesmo, dúvidas sobre a parceria desportiva entre os dois clubes.

«Quero deixar bem claro que não estou a julgar o Vitesse ou o Chelsea, porque eles estão a atuar dentro das leis. Mas esta é uma situação nova no futebol holandês e deve ser discutida. O Vitesse tem seis jogadores emprestados pelo Chelsea mas se este ritmo continuar pode chegar aos nove ou dez», disse Carlos Aalbers, diretor técnico do NEC Nijmegen, em setembro.

Nesta altura, o Vitesse lidera e o NEC Nijmegen segura a lanterna vermelha.



Michael Emenalo, diretor técnico do Chelsea, veio a público defender a política dos londrinos. «Pensamos que este é o caminho certo a seguir. Percebemos que, para os jovens jogadores, o período entre os 18 e os 21 anos é o mais difícil porque colocam em causa a sua real capacidade para chegar à primeira equipa do Chelsea.»

«Quando jogam apenas pela equipa de reservas, ou sub-21, até chegar aos 20 anos, não atingem a um nível suficiente para demonstrar que estão prontos para chegar à primeira equipa e render o máximo», concluiu Emenalo.

Curiosamente, a política também é questionada em Inglaterra. Na época passada, o Watford garantiu dez jogadores da Udinese. Os dois clubes pertencem à família Pozzo, tal como o Granada de Espanha.

Merab Jordania, Abramovich e Matic

Para o Vitesse, tudo começou no verão de 2010. Merab Jordania, da Geórgia, tornou-se proprietário do clube e aproveitou a sua ligação com Roman Abramovich para lançar as bases de uma parceria.

Merab Jordania, antigo médio, destacou-se no Dínamo Tbilisi. Com o final da carreira, acumulou dinheiro e conhecimentos como empresário de jogadores e, entre 1998 e 2005, assumiu a presidência da Federação Georgiana de futebol. Nesse período, chegou a orientar a seleção nacional.

O atual proprietário do Vitesse abandonou a federação na sequência de mais um caso de fraude fiscal, um cenário obscuro que o tem acompanhado nos últimos anos.

Nemanja Matic, jogador do Benfica, foi o primeiro a fazer a ponte entre Londres e Anrhem. A 24 de agosto de 2010, o médio sérvio foi cedido do Vitesse, a par do seu compatriota Slobodan Rajkovic. Matej Delac, que passou entretanto pelo V. Guimarães, seguiu o mesmo caminho.

«Rajkovic e Matic são as primeiras contratações desde que Merab Jordania assumiu o clube. O Vitesse estava a acompanhar estes jogadores já algum tempo mas não tinha recursos financeiros para os garantir», explicou o diretor técnico Ted Van Leeween, nessa altura.



Christian Atsu entre os novos

O fluxo aumentou neste verão. Com o Vitesse na zona europeia, Merab Jordania procura chegar ao próximo nível. Seis jogadores cedidos pelo Chelsea para a temporada 2013/14.

Os adeptos portugueses pensarão de imediato em Christian Atsu. O ganês, que se estreou a marcar nesta jornada, assinou pelo clube londrino mas seguiu imediatamente para a Holanda. Cinco jogos e um golo para o extremo de 21 anos, até ao momento.

Lucas Piazón, jovem médio brasileiro de 19 anos, tem estado em destaque no setor intermediário. Bisou frente a Zwolle e Heerenveen, garantindo ainda a vitória frente ao NEC Nijmegen. Onze jogos, cinco golos.

Nem todos os empréstimos têm retorno garantido, de qualquer forma. Gael Kakuta, médio francês de 22 anos, chegou na época passada mas tem sido pouco utilizado na presente temporada. Sete participações a sair do banco no campeonato e apenas um jogo como titular, na qualificação para a Liga Europa.

Christian Cuevas, médio chileno de 18 anos, chegou este ano à Europa e ainda não fez a sua estreia pelo Vitesse, tal como Sam Hutchinson, defesa inglês de 24 anos. Por outro lado, Patrick Van Aanholt é titular indiscutível. O lateral esquerdo de 23 anos chegou ao clube holandês em janeiro de 2012 e por lá continua, sempre por cedência do Chelsea.

Pelo meio surge um português. Francisco Júnior, jovem formado no Benfica, assinou pelo Manchester City em 2011 mas seguiu posteriormente para o Everton. Neste defeso, foi emprestado ao Vitesse. Dois jogos até ao momento.

Para o Chelsea, a parceria garante ainda prioridade sobre os valores que despontam no Vitesse. Tomas Kalas, um dos jovens colocados na Holanda em 2011, regressou ao clube londrino e já fez a sua estreia pela mão de José Mourinho. Marco van Ginkel, desejado por outros emblemas de Inglaterra, saiu do Vitesse para reforçar o leque de opções do técnico português.

Qual será o limite? Merab Jordania deixou o aviso em 2010. Ou seria uma profecia? «Vamos vencer a Eredivisie dentro de um período de três anos»