A ascensão e queda de um mito. Barcelona é um clube apetecido mas também se pode tornar numa máquina trituradora para os nomes mais sonantes. Vítor Baía tocou no céu, mas desceu ao inferno e só cumpriu dois anos de um contrato de oito épocas. Foi ídolo com Robson e Mourinho e sombra no reinado de Van Gaal. Uma passagem de extremos, cheia de rosas e de espinhos, adjectivada com contrastes profundos.

Em 1996 chegou a Barcelona pela mão do treinador inglês, que tão bem o conhecia do F.C. Porto. Queria reconstruir o dream team de Cruyff e precisava de solidez na baliza. O Barça pagou 6,5 milhões de euros aos azuis e brancos e ofereceu a Vítor Baía mais de dois milhões por temporada. Transformou-se no guarda-redes mais caro de sempre. «Naquela altura, era simplesmente o melhor do mundo na sua posição», reforça ao Maisfutebol Pizzi, outra das contratações de Robson, actualmente empresário de jogadores. «Estava no auge da sua carreira, sem dúvida».

Estava mesmo. Em Dezembro do mesmo ano, os treinadores da liga espanhola elegeram-no como melhor do planeta na sua posição. «A imagem do Vítor era tão forte que só a presença dele na baliza dava muita confiança à defesa», recorda o hispano-argentino, que mais tarde encontraria Baía no F.C. Porto, «mas numa fase difícil em que recuperava de uma lesão». Em Barcelona ganhou a Taça das Taças, a Taça e a Supertaça de Espanha. Faltou o campeonato para o encaixe de todas as peças, o que ditou o afastamento de Robson. Começava o pesadelo.

Noite de pesadelo com o Dínamo de Kiev

Na segunda época, chegou Van Gaal e tudo mudou. A lesão no joelho esquerdo e a consequente intervenção cirúrgica no arranque da temporada 1997/98 marcou a perda de baliza para Hesp, guarda-redes contratado pelo treinador holandês e o homem da sua confiança. «Aquele plantel era muito competitivo. O Hesp era bom, agarrou a oportunidade e fez por merecer a confiança do treinador. Quando o Vítor recuperou já tinha perdido o seu espaço», sublinha Pizzi.

Na ânsia de querer regressar ao posto que o consagrou, alinha frente ao Dínamo Kiev, na Liga dos Campeões, assinando uma das exibições mais infelizes da sua carreira. O Barça perde por 4-0. Vítor Baía ainda não estava completamente recuperado e paga bem cara a factura. Perde a titularidade - só fez dois jogos no campeonato espanhol -, instalando-se a ruptura com o treinador, agudizada na temporada seguinte. Seria o fim.

Na época 1998/99, quando já estava recuperado, não aguentou a pressão e falou em discriminação por parte do treinador. Como castigo, Van Gaal deixou de o convocar e foi meio caminho andando para se regressar ao F.C. Porto, a título de empréstimo, em Janeiro de 1999. Conquistou o pentacampeonato. Ficaria mais uma época por cedência, mas é vítima de problemas no joelho direito. O pesadelo de Barcelona só terminou em Agosto de 2000, quando quebrou o contrato e no mês seguinte assinou pelo F.C. Porto depois de se falar do interesse do Sporting, do Newcastle e de clubes italianos.