A sina de criança: baixo para ser guarda-redes. Vítor Baía era baixo para ser guarda-redes, mas evidenciava qualidades que poderiam fazer dele um caso sério na baliza. Era ágil e felino a agarrar a bola e senhor de uma personalidade adulta, que o protegia de qualquer pressão vinda do exterior. Uma marca imune à passagem do tempo. «Treinei-o entre os dez e os 14 anos e já naquela altura era um guarda-redes fora-de-série. Tinha habilidade para o posto que ocupava, mas o grande problema dele era a altura», recorda ao Maisfutebol Fernando Santos, o seu primeiro treinador no mundo do futebol.

Vítor Baía começou a fazer as primeiras defesas da sua carreira na Académica de Leça, uma colectividade do concelho de Matosinhos onde ainda mantém uma ligação muito própria. Assume o cargo de presidente e Fernando Santos é o seu adjunto: «Ele ajuda-nos naquilo que pode. Por causa da imagem que tem e do nome que ostenta abre-nos muitas portas». Nos torneios de futebol de sete era uma das estrelas da equipa, a fechar a baliza aos adversários, enquanto Domingos, que viria a ser seu colega no F.C. Porto, impressionava pelos golos que marcava.

A dupla fazia estragos. Mas na escola também se distinguia pelo seu valor. «Era um rapaz muito inteligente e bastante aplicado nos estudos. Se não fosse futebolista seria engenheiro ou advogado», sublinha Fernando Santos que ainda hoje mantém uma saudável relação de amizade com o seu benjamim: «Quando teve de abandonar a escola por causa das selecções, aquilo foi um enorme desgosto para o pai que queria que o filho fosse alguém na vida. A irmã do Vítor é economista». E Baía também sonhava em ser economista ou médico. Quis o destino que fosse guarda-redes.

Dirigente do F.C. Porto enganado

Também pela mão de Fernando Santos chegou ao F.C. Porto, mas para que assim fosse foi preciso ludibriar Jorge Vieira, o homem que contratou Cubillas. Na final de um torneio entre a Académica de Leça e a Portuguesa de Leça, Domingos fez jus às suas qualidades de goleador, enquanto Vítor Baía assinou uma exibição mediana, «porque teve pouco trabalho nesse jogo». O herói do encontro foi um tal de Carlitos, guarda-redes da equipa adversária: «Era esse que o F.C. Porto queria contratar juntamente com Domingos. Disse-lhes que sim. Mas quando me apresentei nas Antas levei o Domingos e o Vítor Baía. Por que o fiz? Porque o Vítor era mais novo, era melhor do que o outro e tinha margem de progressão».

Ninguém reparou no sucedido. Mas por ser baixo para o posto de guarda-redes duvidaram. «Olharam para ele e questionaram a altura que tinha, perguntaram-lhe se a família era baixinha», recorda o seu primeiro treinador. Por ser mais pequeno do que os outros esteve na sombra do êxito. Nos juvenis foi suplente de Bizarro e no primeiro ano de júnior era suplente de Best. «Há uma final de juvenis ganha pelo Sporting por causa da sua baixa estatura. O F.C. Porto perde por 2-0 e nos dois golos a bola entra perto do ângulo, onde ele era incapaz de chegar por muito que se esticasse». Hoje, tem 1,86 metros. E foi o melhor guarda-redes da última edição da Liga dos Campeões...