É um tema delicado. Na selecção, Vítor Baía viveu momentos marcantes, tornou-se num ídolo, transformou-se no melhor guarda-redes português de todos os tempos, conseguindo ser o mais internacional de todos aqueles que já passaram pela baliza. Soma 80 jogos - podiam ser mais se não fossem as lesões. Mas os últimos tempos são de afastamento, o que tem gerado muito barulho de fundo, num processo que ainda não foi bem explicado ao país desportivo. Aguarda-se uma resposta até para terminar com todas as especulações em torno desta matéria.

O filme dos jogos da equipa das quinas diz que não foi Scolari que iniciou o divórcio. Apenas o consumou. No rescaldo do Mundial-2002, Vítor Baía ainda esteve de pedra e cal no seu posto. Defrontou a Inglaterra, em Birmingham (1-1), numa altura de reflexão e de transição, pela mão de Agostinho Oliveira. Foi o seu último desafio. Depois deixou de ser convocado por Agostinho, porque perdeu a titularidade no F.C. Porto, vítima de uma suspensão interna. Foi essa a explicação dada. Quando Scolari assumiu as rédeas, em Fevereiro de 2003, não convocou Baía: «Neste momento, o Ricardo e o Quim são os melhores».

Depois deixou de explicar, porque não tece comentários sobre os que ficam de fora. Aumenta o barulho de fundo. Scolari chama Bruno Vale, o terceiro guarda-redes do F.C. Porto; José Mourinho diz que Vítor Baía vive um momento tão intenso como quando se transferiu para Barcelona; Baía alimenta a esperança de ir ao Euro-2004, mas a convocatória passa-lhe ao lado; os opinion makers estabelecem elos de ligação com o caso Scolari-Romário, avançado preterido pelo seleccionador no último Mundial. O assunto continua vivo. Não morreu. Em cada golo consentido por Ricardo, fala-se de Baía.

Titular no último mundial

Se agora se estranha a ausência de Vítor Baía na selecção também se estranhou a aposta de António Oliveira no guarda-redes do F.C. Porto no último Mundial. Não fez nenhum jogo durante a fase de qualificação, por culpa das sucessivas lesões, mas mereceu a confiança do seleccionador nos três jogos da fase final. A discussão foi acesa e conturbada. Mas nada feito. Ricardo foi o elo mais fraco e vítima de uma exibição fantástica do seu rival, no particular com a China, antes do Campeonato do Mundo.

Recuando no tempo, Vítor Baía foi sempre o guarda-redes da geração de ouro. Estreou-se a 19 de Dezembro de 1990, com 21 anos, frente aos Estados Unidos (1-1). A partir daí foi sempre titular indiscutível, marcou presença no Euro-96 e no Euro-2000 e ambos esteve em risco de não participar por castigo (no rescaldo de um desentendimento com o dirigente do Campomaiorense Pedro Morcela) e por lesão, respectivamente. Detém o recorde de inviolabilidade de oito desafios. Foi capitão por 42 vezes.