A sorte de uns é o azar de outros. A sorte de Vítor Baía foi o azar de Mlynarczyck e a queda absoluta de Zé Beto. Era o princípio de um mito. De uma nova geração de talentos em potência capaz de revolucionar o futebol português. Agora, o dia 11 de Setembro está associado ao terror e à morte, mas para o actual guarda-redes do F.C. Porto é sempre uma data muito especial. Marca a sua estreia na 1.ª Divisão ao serviço do seu clube de sempre. Em 1988 tinha 18 anos. «Mas era um jovem precocemente velho por causa da sua personalidade. Era sério, frio, concentrado e tinha um estilo muito bonito na baliza», explica ao Maisfutebol Quinito, o treinador que o lançou, actual director-desportivo do V. Setúbal.

Quando o F.C. Porto ia entrar em estágio para preparar a deslocação a Guimarães, Mlynarczyck fracturou a clavícula e Zé Beto recuperava de uma lesão. Por isso, a escolha do treinador recaiu no guarda-redes dos juniores que trabalhava com os seniores. «Apostei nele, até porque era um rapaz que treinava muito bem. A nossa conversa foi curta. Senti que ele era uma pessoa com uma responsabilidade enorme e isso é meio caminho andado para os guarda-redes. Era um miúdo, mas já se comportava como um velho. Só lhe disse que precisava de ter a tranquilidade que evidenciava nos treinos. Isso bastava». Assim foi.

Meio apanhado de surpresa, quando Vítor Baía soube que seria titular telefonou para casa de Fernando Santos, seu treinador na Académica de Leça e que o levou para o F.C. Porto. «Fernando, logo vou jogar. Estás a brincar comigo, não estás?» Mas era verdade. Pediu à namorada que lhe levasse as luvas ao hotel e estreou-se com um empate (1-1) num terreno particularmente difícil. «E fez duas grandes defesas», recorda-se Fernando Santos. Dezasseis anos depois, Quinito nunca pensou que o tempo se encarregaria de moldar as qualidades daquele jovem ao ponto se tornar numa referência tão sonante: «Mas que havia ali muita qualidade, lá isso havia...»

Observava Mlynarczyck nos treinos

Entre 1989/90 e 1995/96, quando foi para Barcelona, Vítor Baía assume em absoluto a titularidade da baliza do F.C. Porto. Tem 19 anos e Artur Jorge aposta nele com a certeza de que estaria a lançar um talento capaz de marcar a história do futebol português. «Ele sempre foi um jovem muito observador. Antes de estar com os seniores, ainda nos tempos de júnior, passava horas a ver-me treinar. A mim, ao Zé Beto e ao Amaral. Acho que aprendeu muito com as observações que fez», explica ao Maisfutebol o polaco Mlynarczyck, actual treinador de guarda-redes do Widzew Lodz, que aproveita a oportunidade para «mandar um grande abraço e desejar-lhe um feliz aniversário».

Mas as qualidades de um guarda-redes de eleição já existiam só que foram aperfeiçoadas à medida que o tempo foi passando. «Tinha tudo para ser um bom guarda-redes. Era alto, possuía bons reflexos e era muito rápido a reagir. Assim se tornou num dos melhores do mundo. Psicologicamente era muito forte. Há guarda-redes que são muito bons nos treinos, mas falham nos jogos. O Vítor é tão bom nos treinos como nos jogos, porque é seguro e determinado», adianta Mlynarczyck que chegou a ser seu treinador no F.C. Porto. Era o começo de uma grande história...