Não é uma entrevista. É antes uma conversa com o Maisfutebol. Vítor Baía disponibilizou-se para falar da sua vida pouco tempo antes de completar 35 anos. Num tom sereno, afável e misturado de boa-disposição. O futuro é uma incógnita, mas não se vê na pele de treinador. Só lhe falta marcar um golo, seria uma espécie de título de uma carreira. Cinco respostas para ler:

Maisfutebol - Já ganhou quase tudo o que havia para ganhar. Mas é guarda-redes. Não sente a necessidade de marcar um golo antes de terminar a sua carreira?

Vítor Baía: Por que não? Por acaso, essa é uma situação que o Mourinho me foi dizendo ao longo do ano. Se houvesse uma oportunidade em que fosse possível ser eu a marcar um golo, iria marcá-lo. Mas no jogo em que estava programado isso acontecer, jogou o Nuno. Foi um jogo da Taça de Portugal, nas Antas, com o Varzim. Não sei por que me dizia isso, mas não era para me dar motivação, porque já sou uma pessoa motivada por natureza. Seria a oportunidade de viver uma sensação que nunca vivi na minha carreira.

Faz 35 anos. A sua carreira é feita de momentos bons e de momentos maus. Se pudesse apagar um dia da sua carreira que dia seria esse? E, já agora, se pudesse viver de novo um dia especial qual seria o dia escolhido?

Não escolheria um só dia. Apagaria os dias maus da minha carreira, que são os dias em que estive lesionado. Pensando bem, esses dias obrigaram-me a crescer muito como ser humano e como desportista. Depois, felizmente, não vivi um só dia bom, foram vários e gostava que esses dias se repetissem. Mesmo as coisas simples, como a conquista de uma Supertaça de Portugal, dão-me alegria, a mesma alegria que senti quando cheguei ao topo, quando conquistei a Liga dos Campeões. Os títulos conquistados no F.C. Porto e a Taça UEFA deram-me alegria. Assim como o campeonato conquistado pelo Barcelona, a Taça das Taças, a Taças de Espanha e o troféu de melhor guarda-redes de 2004. Se pudesse viveria esses dias de novo.

O seu primeiro treinador levou-o para o F.C. Porto e fez acreditar os dirigentes de que era você o guarda-redes que eles queriam, quando, na verdade, era outro miúdo. Já pensou no que seria hoje se tal não tivesse acontecido?

(Risos). Essa é uma boa questão. É difícil de prever qual teria sido o meu trajecto. Provavelmente, não seria atleta de alta competição. Lembro-me que era um aluno bom e teria seguido uma carreira académica e colocado o futebol de lado. Mas é difícil saber o futuro. O meu pai queria que me formasse como a minha irmã. Quando abandonei os estudos, por causa do futebol, foi um grande desgosto para ele. Hoje, é um dos meus maiores fãs.

Por aquilo que já ganhou, por aquilo que representa para os adeptos do futebol, acha que viveria sem a fama?

É claro que conseguiria. A minha maneira de ser leva-me a pensar que não teria qualquer tipo de problema. Tenho tanto orgulho na minha carreira como naquilo que sou como pessoa, apesar de olharem para mim como futebolista. Ao longo da minha vida nunca vivi obcecado em ser famoso, mas em imortalizar um nome e uma carreira. Mas continuo a ser a mesma pessoa. Sempre disse que são os títulos que alimentam e imortalizam uma carreira. É isso que traz a fama. Hoje, aos 35 anos, continuo a ter a mesma disponibilidade para treinar. O meu barómetro é esse. É ter a ambição de saber que quando acordo tenho de me atirar para o chão nos treinos. Faz-me sentir bem.

Falando do futuro. Futebol, comentador, as acções de solidariedade na sua Fundação, em qual destas actividades se imagina quando terminar a carreira?

A minha Fundação já foi criada a pensar no final da minha carreira. Quando terminar, vou participar no meu projecto de forma mais assídua e mais directa, porque terei mais tempo. Vamos ver qual será a vocação que possa estar escondida. Ainda é um mistério. De repente, acho que não serei treinador, apesar de não poder dizer desta água não beberei. Mas não me vejo como treinador...