Para homens. Boavista e V. Guimarães honraram a tradição e protagonizaram um duelo nos limites no Estádio do Bessa. O regresso de um dos Clássicos da Liga, entre velhos rivais, foi, como tantas outras vezes, duro e na raça. Muito mais disputado do que bem jogado. Teve golos, expulsões, reviravoltas. Argumento cheio e, no final, vitória para a equipa da casa (3-1).
 
Uma vitória certa por dois motivos: o Boavista foi muito melhor quando jogou contra dez, como seria de esperar, e não foi tão inferior ao Vitória onze contra onze para merecer a desvantagem com que foi para o intervalo. Num jogo de luta, a primeira de três expulsões fez a diferença.
 
A primeira parte, de resto, deixou logo a antever o que seria o filme total. Falta atrás de falta. Entradas nos limites. Muito querer e entrega em doses, por vezes, exageradas. Marek Cech fartou-se de cobrar livres para a área, que nunca sortiram efeito. O Vitória viu várias das suas pedras amareladas cedo.
 
Percebia-se que a forma como o jogo começou traria dissabores a, pelo menos, uma das equipas, mais tarde ou mais cedo. Antes, contudo, veio o golo. Num jogo destes, não deixa de ser curioso que tenha sido de penálti. Inequívoco, sublinhe-se.
 
Em estreia na Liga, o central Appindangoye teve uma péssima abordagem perante Tomané, que se esgueirava para a área. Agarrou o avançado e João Capela não hesitou. Alex converteu.
 
Antes do golo, o único lance de perigo real tinha sido um desvio de Uchebo para a própria baliza, que Mika evitou que entrasse. O mesmo Uchebo criou perigo, depois, na baliza certa, com remate cruzado, valendo Douglas. Foi o melhor que se viu em 45 minutos. O resto foram duelos atrás de duelos. Faltas atrás de faltas. Futebol para homens no Dia da Mulher.
 
O Vitória tinha em Otávio a pedra com melhor rendimento, mas raramente conseguia que o jogo do brasileiro lhe fosse útil. O Boavista puxava a toada para o lado que mais queria. Disputa atrás de disputa, lá está. Dentes cerrados. O Vitória anuía e ia perdendo batalhas. O Boavista começava a justificar algo mais.
 
Só o conseguiu, contudo, no segundo tempo, pouco depois do momento que virou, definitivamente, o jogo. Afonso Figueiredo preparava-se para rematar à entrada da área vitoriana, caiu e João Capela assinalou a falta. Deixa dúvidas. Problema para os vimaranenses? Bernard, que a cometeu, já tinha amarelo. Viu o segundo. A história do jogo começava a mudar.
 
Zé Manuel veio para mudar, vitorianos perdem a cabeça
 
Petit não perdeu tempo. Se, onze contra onze, a sua equipa conseguia ter a balança a pender para o seu lado, com mais um elemento era altura de a fazer tombar de vez. Tirou o azarado estreante Appindangoye, lançou o avançado Zé Manuel. Era hora de arriscar. E correu bem.
 
Antes do empate, com o relógio a apontar para a hora de jogo, Zé Manuel ficou perto de marcar duas vezes. Primeiro Douglas foi melhor, depois atirou, de cabeça, às malhas laterais. Crescia o Boavista e o marcador era cada vez mais curto. Adivinhava-se o empate que não tardou.
 
Ao minuto 63, Brito, que já tinha sido o melhor do Boavista na primeira parte, arrancou pela esquerda e ninguém o parou. Foi à linha, cruzou rasteiro, atrasado, para a zona de penálti. Marek Cech rematou para o golo. Bola ao centro que havia mais.
 
Passaram-se seis minutos e veio o segundo. Centro de Idris e desvio de cabeça de Uchebo, ao segundo poste. Muito fácil.
 
O Vitória, que nunca estivera muito confortável, estava de rastos. Ainda ameaçou numa bola parada que Kanu atirou contra o poste, mas, no lance seguinte, sofreu o terceiro. Contra-ataque rápido e Zé Manuel, o homem que vinha para virar o jogo, confirmou a vitória. Um pormenor importante: o avançado dominou a bola com o braço, pelo que o golo é ilegal.
 
João Capela teve, de facto, um jogo muito difícil, sobretudo porque o critério foi, desde cedo, curto. Errou, cabalmente, ali. Exagerou no vermelho direto a Sami, na terceira expulsão, também. Antes, já Nii Plange tinha visto o segundo amarelo. Tudo em período de descontos, com vitorianos de cabeça perdida.
 
Indiferente, o Boavista geriu o tempo até final e somou mais três pontos, chegando aos 25. O objetivo da manutenção está cada vez mais perto, com este regresso às vitórias: os axadrezados já não venciam desde 25 de janeiro, na receção ao Braga. O Vitória não aproveitou o tropeção, precisamente, do rival minhoto e continua a viver um momento de menor fulgor. 

A rivalidade com o Boavista, percebeu-se, está bem viva. Mas não trouxe motivos para sorrir.