Há um princípio singular nos países do norte da Europa que não encontra paralelo provavelmente em mais lugar nenhum do mundo: nem sequer em Portugal, claro.

Chama-se trabalhar para o bem comum.

Tem a ver, por exemplo, com o sentimento de que todos têm de contribuir para um sistema social mais forte. Porque, ao fazê-lo, estão a investir em benefícios também para eles.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Nós em Portugal, já se sabe, é o oposto: cada um por si e que se safe o mais esperto.

Mas todos gostamos de saber, entre outras coisas, que uma senhora nórdica não consegue encenar uma doença para não prejudicar o estado. Não somos capazes é interpretar esta forma de estar na vida. Porque nenhum de nós é otário. Enfim, princípios.

Ora vem esta conversa a propósito do empate do Sporting este domingo em Alvalade.

A formação leonina entrou forte no jogo, a dominar e a ter a bola, mas não foi capaz de criar grandes oportunidades de perigo. Até que um holandês deu uma lição de vida.

Aos 34 minutos, após uma bola bombeada para a área por Esgaio, Bas Dost surgiu em posição de remate: toda a gente pensou, naturalmente, que ia rematar. Afinal de contas ele é o goleador do campeonato, um homem que vive de golos. É insaciável.

Mas não.

Percebendo que o movimento dos adversários em direção à baliza deixavam Alan Ruiz solto, o holandês colocou-lhe a bola redondinha para o golo que abriu o marcador.

Pouco depois, curiosamente, fez o mesmo com Bruno César e isolou o brasileiro na cara do guarda-redes do V. Guimarães, mas desta vez o companheiro não conseguiu marcar.

Estes foram, no fundo, exemplos do jogo de sacrifício de Bas Dost.

Um jogo pelo bem comum.

Não teve muitas oportunidades para rematar, é verdade, as estatísticas indicam que teve duas oportunidades de perigo e um remate apenas, que ficou bloqueado num adversário. Mas nem por isso Bas Dost se escondeu. Pelo contrário: fartou-se de trabalhar para a equipa.

Durante muito tempo pareceu que o espírito altruísta de Bas Dost pudesse ser suficiente. Mas não foi. O V. Guimarães nunca foi inferior no jogo e fez por merecer o empate.

Entrou a criar duas excelentes ocasiões de golo por Hernâni, tentou jogar sempre, disputou todas as bolas e manteve a baliza de Rui Patrício sob ameaça. Por isso, e quando faltavam quinze minutos para o fim, fez mesmo o golo da igualdade.

Hernâni, sempre ele, lançou Bruno Gaspar, que cruzou para a área, Marega fugiu à marcação, deixou Paulo Oliveira um segundo atrasado e rematou para o empate.

Nada a dizer, justíssimo.

O que se pode dizer é que faltou ao Sporting um pouco mais do espírito de Bas Dost.

Sobretudo na meia hora final, a equipa foi desligando-se do jogo, perdendo o fulgor que quase 42 mil adeptos nas bancadas exigiam, foi enfim adormecendo no pedaço.

Deixou de pensar no bem comum, pôs-se a jeito e perdeu mais dois pontos.

Também não deixa de ser verdade que as opções de Jorge Jesus foram infelizes. Bruno César não tem capacidade de dar ao meio-campo o nervo que ele precisa: é  lento nas recuperações, pouco agressivo nas disputas de bola, enfim. Fez apenas dois desarmes e uma interceção, por exemplo. 

Por outro lado, Ricardo Esgaio na esquerda foi um erro crasso. O lateral passou o jogo a correr atrás de Hernâni, que parecia mover-se duas velocidades acima do jovem leão. O golo do V. Guimarães, por exemplo, foi todo construído pela esquerda.

Por tudo isso o Sporting foi incapaz de vencer e no fim ouviu assobios das bancadas. Nada mais justo, também. A euforia dos adeptos merecia outro compromisso com o bem comum.