Manuel Salgado de Freitas Teixeira tem 75 anos e é sócio do Vitória de Guimarães há cerca de 60 – como diz, mais de metade da vida do próprio clube, fundado em 1922.

Na sexta-feira, recebeu uma chamada daquelas que fazem saltar o coração de alegria e emoção: o «seu» Vitória ligou-lhe.

«O Vitória ligou-me ontem, fiquei surpreendido e muito satisfeito. É o humanismo, é a parte humana de querer saber das pessoas. O Vitória é aquela coisa, é um orgulho muito grande», conta Manuel, em conversa com o Maisfutebol.

«Foi uma menina que eu até conheço que me ligou. Perguntou-me se estou bem, se preciso de auxílio e disse que se eu precisasse de alguma coisa para dizer que o clube arranjava. Não querem que me falte nada», prossegue.

Nem a atual situação crítica que o país atravessa, devido à pandemia de covid-19, o demove das suas obrigações para com o emblema que venera desde sempre: as quotas.

«Falei das quotas que tinha para pagar, mas responderam-me logo: 'Queremos é o seu bem-estar, agora também estamos fechados. Tem tempo para isso, venha cá só quando for seguro'.»

Manuel Teixeira é sócio do Vitória de Guimarães há 60 anos (arquivo pessoal)

«Uma vida de família, Vitória e trabalho»

Como diz, a vida do Sr. Manuel «é a família, o Vitória e o trabalho». Por motivos de saúde, já não se permite ir tantas vezes à bola: «Já fui a todo o lado com o Vitória, mas há dez anos comecei a ver praticamente só os jogos em casa.»

À história dos Conquistadores nem as filhas escaparam e o adepto vimaranense já tem o legado garantido: «Há uns anos comecei a ter alguns problemas de saúde, às vezes não ia ao futebol, mas se a minha filha mais nova estivesse aqui obrigava-me a ir. Tenho duas filhas que são duas sócias, uma não vai ao estádio, mas continuo a pagar as quotas para não deixar de ser sócia. É o clube do meu coração, nenhum o pode substituir.»

«A minha filha mais nova [a que o acompanha nos jogos] é terrível, é capaz de tudo pelo Vitória, até chorar. Sou todo Vitória, mas essa minha filha é mesmo doida», acrescenta.

Manuel também já tentou passar o testemunho aos netos, mas a tarefa não tem sido fácil: «Tenho-me empenhado muito para que os meus netos sejam do Vitória, mas eles têm um pai que é sócio do FC Porto desde que nasceu.»

«Os [netos] mais velhos começam a dizer que são dos dois clubes. A mais nova é que continua a dizer que é só Vitória, só Vitória. A minha maior tristeza é que temos três netos, nós é que os levávamos à escola e a outras atividades, e a verdade é que agora só os vejo pelo telemóvel», confessa.

O Sr. Manuel no Estádio D. Afonso Henriques, acompanhado pela esposa (arquivo pessoal)

«Fiquei muito orgulhoso, não por mim, mas pelo Vitória»

A conversa volta para a chamada recebida na sexta-feira, e mesmo à distância a que o telefone obriga – a nova imperatriz social – o nosso jornal percebe bem que o coração do Sr. Manuel se enche de orgulho para falar do «seu» Vitória.

«Ontem [o telefonema] emocionou-me de tal maneira que depois disso falei com três pessoas e contei-lhes. Fiquei muito orgulhoso, não por mim, mas pelo Vitória.»

«Este gesto dá um alento especial para cumprir o isolamento social e falar da grandeza do Vitória. Não sei se os outros clubes também estão a fazer isto, mas é fenomenal. Telefonar para os sócios a oferecerem-se para nos trazerem coisas a casa e preocuparem-se connosco... essas coisas comovem-nos muito», conclui.