As regras do jornalismo dizem que uma notícia começa a construir-se do mais importante para o menos. Isto não é uma notícia, mas vamos fazer de conta que é e começar pelo que é realmente importante: aconteça o que acontecer, vai haver campeonato até ao fim.

Uma boa notícia, não é? Enfim, é sempre um prazer ser um portador de boas novas.

Para lá desse facto, da certeza que o campeonato vai ser emocionante até ao último dia, sobra outra evidência que vale a pena sublinhar desde já: o Sporting termina a época em grande forma.

Desde que perdeu em casa com o Benfica, e que ficou portanto obrigado a não falhar mais, a equipa leonina somou oito vitórias consecutivas, naquela que é a melhor sequência da época.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Parece uma equipa embalada pela teoria dos reflexos condicionados de Pavlov: reage melhor perante certos estímulos, sobretudo quando se sente pressionada pelo rival. Por isso foi ganhar ao Dragão e a Moreira de Cónegos, goleou o Arouca e o Belenenses e esta noite atropelou o V. Setúbal.

Atropelou um V. Setúbal, é preciso dizê-lo também desde já, demasiado suave para ser obstáculo.

Alfio Basile tinha uma frase, aliás, que ajuda a explicar com algum humor o que foi este V. Setúbal. Disse o argentino, quando lhe perguntavam por táticas e posicionamentos: «Eu coloco sempre bem as minhas equipas em campo, o problema é que quando o jogo começa os jogadores movem-se.»

Uma forma divertida de dizer que o importante não são os esquemas, são as dinâmicas.

Quim Machado parece mergulhado naquela fase em que é capaz de complicar o que é fácil e quis resolver através de um esquema o que não resolveu com dinâmicas: a forma de parar o Sporting.

Por isso apostou em três centrais, numa linha de cinco defesas, mais quatro médios logo à frente. A equipa defendia com duas linhas muito juntas, numa espécie de barreira de nove jogadores. Olhando para os números, parecia realmente um esquema eficaz, mas o futebol é mais do que isso e faltavam soluções capazes de parar a dinâmica ofensiva do Sporting.

Esta equipa é rica em trocas posicionais, é um conjunto criativo, confunde qualquer adversário demasiado estático e por isso só tinha de puxar Ruiz ou Gelson Martins para o centro e arrastar um defesa com eles, abrindo um corredor para Bruno César, para Adrien ou para Téo entrar na área.

Por isso começou o jogo a atacar e a lançar a confusão na defesa sadina, que foi ficando mais insegura a cada oportunidade de golo leonina. Slimani, por duas vezes, e Coates ameaçaram o golo que Gelson Martins marcou, pouco antes da meia-hora, abrindo estão caminho à goleada.

A partir daí foi uma enxurrada de bom futebol, com domínio, combinações ao primeiro toque, oportunidades de perigo e grandes golos.

O de Gelson já o tinha sido, num chapéu a Ricardo após uma série de trocas de bola, os de Téo e Gelson, outra vez, nasceram de jogadas bem conseguidas, mas nenhum atingiu o nível de beleza do penúltimo: Bruno César bateu um livre a meia altura para um remate de primeira de Ruiz.

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Fantástico.

Com isto tudo quase passou despercebida a ausência de João Mário, por problemas físicos: o até aqui mais desequilibrador jogador leonino deu lugar a Gelson, que foi o melhor em campo.

Portanto nada a dizer. Mais vale guardar o espaço para sublinhar que o Sporting se despediu de Alvalade com uma barrigada de futebol, afeto leonino e carinho: a equipa proporcionou um belo futebol, os mais de 43 mil adeptos mostraram paixão e todos juntos celebraram o sonho do título.

Tem a palavra o Benfica.