Senhores com um dom natural para a bola, daqueles que até parecem torná-la mais redonda. Estes são três dos génios que pisaram os relvados portugueses, mas cujas carreiras ficaram ensombradas por questões pouco futebolísticas.
Vítor Baptista. Estrela do Benfica na década de 70, campeão nacional cinco vezes, mas com muitas estórias de irreverência e até indisciplina para contar. A mais famosa é a «do brinco»: quando o avançado festejava exuberantemente o golo marcado ao Sporting em 1977/1978, perdeu o brinco que usava num abraço ao companheiro Cavungi. Vítor Baptista obrigou os jogadores (e, imagine-se, até o árbitro!) a procurarem o seu pertence. «O brinco custou-me 12 contos e penso que o prémio de jogo é oito. Perdi dinheiro a trabalhar», ainda afirmou, furioso.
Não era por acaso que se intitulava «o Maior». Chegava a ir embora quando não era titular e daí os sucessivos problemas com os treinadores. E numa célebre jornada europeia do Benfica contra o Torpedo, adivinhe quem foi o único jogador a aparecer de calções e t-shirt no treino, com temperaturas bem negativas em Moscovo. Nessa altura já se falava de droga, dinheiro mal gasto em exuberâncias. Saiu do Benfica após uma «birra»: queria 650 contos de ordenado mais determinado veículo de luxo. Deram-lhe o carro e 550 contos; preferiu ir para o Vitória de Setúbal receber 100. Vitorino fez-lhe uma homenagem em forma de música, que pode recordar aqui.
Mário Jardel. Avançado brasileiro que marcou uma geração em Portugal. Esteve quatro épocas no F.C. Porto, onde foi sempre o melhor marcador, e duas no Sporting, onde na primeira deu um título aos leões mas na segunda se perdeu. Estórias de jogo, álcool e mulheres colocaram a carreira do Super Mário em risco. Nove clubes em seis anos comprovam o insucesso de Jardel, agora desempregado.
Mas disto é que os adeptos não se esquecem: 183 golos em 174 jogos no campeonato português. De cabeça, de pé direito, de pé esquerdo e das formas mais estranhas, todas eram boas maneiras de marcar golo para Mário Jardel. E também ele teve direito a música. Carlos Tê escreveu para Rui Veloso cantar: «Tu querias perceber os pássaros/ Voar como o Jardel sobre os centrais/ Saber por que dão seda os casulos/ Mas isso já eram sonhos a mais». Sonhos que Super Mário «vendeu» a muitos adeptos, que tão cedo não irão esquecer o seu instinto fatal.

Sergei Iuran. Avançado russo, deixou o Benfica em 1993 para ingressar no F.C. Porto e foi campeão com ambas as camisolas. Com um talento indiscutível, mas um rótulo de problemático que o perseguiu durante toda a carreira. O toque com cheirinho a Leste desvaneceu-se por completo quando, em Novembro de 1994, Iuran protagonizou um desastre de automóvel na cidade Invicta, do qual resultou uma vítima mortal. Com excesso de velocidade e suspeitas de álcool no sangue, o russo viu-se envolvido num complicado processo e isso reflectiu-se numa personalidade cada vez mais difícil de domar.
Acabou por sair do F.C. Porto pela porta pequena. Seguiram-se o Spartak de Moscovo, Millwall, Fortuna de Dusseldorf, Bochum, novamente Spartak e Sturm Graz, sempre na sombra de uma carreira que podia (e devia) ter sido mais marcante.
Vote AQUI naquele que considera o génio mais problemático.