Walter, avançado cedido pelo FC Porto ao Goiás, é o quinto melhor marcador do Brasileirão, e atravessa fase especialmente goleadora.

Mesmo com peso a mais, o jogador tem somado golos importantes. E, em longa entrevista que concedeu ao «Globo Esporte», até se irrita com a insistência em relação ao seu peso: «Não precisa chamar de gordinho».

Com 24 anos, 1,76m, e 93 quilos, o atacante tem, sem dúvida, peso a mais para um futebolista de topo. E o diagnóstico já foi feito: Walter bebe refrigerantes em excesso.

O jogador está a tentar resolver o problema do peso, mas o mais importante é que está a marcar golos. São já 21 na temporada, número que o coloca em quinto lugar no ranking dos artilheiros do Brasil em 2013.

Filho mais novo de seis irmãos, Walter cresceu num ambiente tenso, com medo de ser apanhado por uma bala perdida: «Minha mãe saía atrás de mim louca por causa do tiroteio. Já invadi muito a casa dos outros. Nem conhecia. Entrava na primeira casa que via».

No meio desta realidade, Walter não tem dúvidas: foi salvo pelo futebol. «O futebol me salvou de muitas coisas. Você está numa favela, sem estudo, ou ia trabalhar com qualquer coisa ou ia ser bandido.»

Walter tem quatro irmãos vivos e ainda teve Waldemir, que já não está neste mundo porque foi asssassinado: «Faleceu...mataram, né? Eu tinha seis anos de idade. Lembro pouco. Ele morreu com 18 anos, sinto falta, apesar da pouca convivência, mas Deus sabe o que faz».

«Me lembro que estávamos em casa, minha mãe fez um bolo para ele. Ele falou que tinha que voltar para o Coque. Minha mãe tinha saído de lá por causa dele. Ele falou que tinha que voltar para a casa da namorada. Foi morto dentro do ônibus. Alguém passou a fita. Foi o que aconteceu. O bandido entrou no ônibus, deu quatro, cinco tiros. Foi uma violência muito cruel. Fiquei muito triste. Tinha seis anos só, mas era esperto. Foi algo no meu bairro. Mas Deus sabe que faz», insistiu, resignado.

Por tudo isto, Walter olha para o futebol como uma experiência salvadora: «O futebol foi tudo para mim. Eu não sei o que seria de mim. Não tenho bom estudo, não gostava de estudar. Meu negócio era correr atrás de bola, fugia da escola, ficava no videogame. Aprontei muito. O futebol me salvou de muitas coisas. Você está numa favela, sem estudo, ou ia trabalhar com qualquer coisa ou ia ser bandido. Deus me deu um dom, que foi jogar futebol, e com esse dom cheguei no profissional. Eu tinha essa dúvida. Será que vou ser profissional? Mas eu consegui, hoje sou profissional.»

A filha prematura que complicou aventura no Porto

Sobre a experiência já vivida no FC Porto, Walter explicou: «No primeiro ano fui campeão de tudo: Liga Europa, Taça de Portugal, Campeonato Português, a Supertaça. Fui um ano muito bom, Conheci grandes jogadores, como Falcao García, Hulk, Fernando. No outro ano foi que aconteceu a coisa da minha filha, nasceu com seis meses, pequena, prematura. Foi aí que minha cabeça não ficou boa. Era hospital, treino. Pouca gente sabia o que estava acontecendo. O rendimento caiu e muito. Passei um momento muito difícil com minha família».

A filha, Catarina Vitória, ficou três meses no hospital.

Mas agora já está bem: «O médico falou que do jeito que ela nasceu tinha pouca chance de vida. Se ficasse viva, teria algum problema. Mas hoje ela é perfeita, está 100% bem. Três meses. O médico falou que do jeito que ela nasceu tinha pouca chance de vida. Se ficasse viva, teria algum problema. Mas hoje ela é perfeita, está 100% bem. Foi um milagre de Deus mesmo. Está com dois anos, é esperta, parece até que tem três.

A luta contra o peso a mais

Toda a gente sabe que Walter tem peso a mais. Como está isso? «Tenho condição, gosto, mas tenho consciência de que tenho que perder. Estou chegando na meta que o professor quer. Tenho de perder uns quatro quilos. Se eu não chegar nessa meta, com certeza o professor não vai me colocar para jogar.»