O Western Sydney Wanderers jogou o primeiro jogo oficial da sua história há dois anos e agora é campeão asiático. Um caso de sucesso fulgurante, que culminou com a conquista da Taça dos Campeões a mais de 12 mil quilómetros de casa, em Riade. É o maior feito da história do futebol australiano, que no planeta do futebol é asiático desde há oito anos.


É uma história de sonho, a do Wanderers. Um clube que nasceu de um processo estranho para os padrões europeus. Em 2012, a Federação de futebol australiana (FFA) precisava de mais um clube para completar a A-League, depois de retirar a licença ao Gold Coast United. Então, iniciou o processo de fundação de uma segunda equipa na região de Sidnei, para lá do Sydney FC.


Como não apareceu ninguém interessado em suportar os custos, foi a própria Federação a assumi-los, tornando-se proprietária do novo clube. Mas quis fazê-lo envolvendo a região de Western Sydney, com consultas junto da comunidade sobre muito do que deveria envolver o novo clube: dos princípios ao espírito, passando pelas cores dos equipamentos e pelo nome. Debateu-se, fizeram-se votações online e em apenas quatro meses nascia o Western Sydney Wanderers (WSW).


O nome pretende ser um piscar de olho ao passado, evocando o primeiro jogo de futebol de que há memória na Austrália: em 1880, entre o King’s School e uma equipa chamada Wanderers, em Parramatta, a cidade que serve de sede ao WSW, e onde fica o seu estádio. A jeito para um lema chamativo: «O clube mais novo, mais velho da Austrália.»


Para treinador foi contratado Tony Popovic, antigo internacional australiano e ex-jogador do Crystal Palace, em Inglaterra, onde trabalhava como técnico adjunto quando chegou o convite da FFA. Em pouco tempo o técnico, que assinou por quatro anos, construiu uma equipa competitiva, juntando jogadores australianos com alguns veteranos estrangeiros, como o japonês Shinji Ono.


O Wanderers teve um arranque competitivo lento, mas embalou logo na primeira época e acabou a vencer a época regular da A-League. Perdeu depois a final do campeonato, frente ao Central Coast Mariners, mas já tinha garantido a presença na Liga dos Campeões Asiática.


Na temporada seguinte, Popovic continuou a reforçar a equipa, dando expressão à tentativa de dinamização da A-League, que procura atrair nomes sonantes e também alguns dos melhores jogadores australianos. Foi quando chegou Matthew Spiranovic, defesa internacional australiano que já tinha passado pela Alemanha e pelo Japão.


Seguiu-se mais uma época na linha da frente da A-League, que terminou com o segundo lugar na época regular e a derrota na final. A equipa ganhou rapidamente uma base forte na região. Tem 16 mil lugares anuais e fila de espera por bilhetes para o estádio, com capacidade para 20 mil pessoas. Já em 2014 deixou de resto de ser propriedade da Federação, depois de ter sido comprado por um consórcio liderado pelo empresário australiano Paul Lederer. 


Esta temporada, que começou a 10 de outubro, o Wanderers está em último lugar, mas o facto é que tem descurado o campeonato, em nome de valores mais altos: a equipa assentou todas as baterias na Liga dos Campeões, no seu ano de estreia na prova.


Foi épica a caminhada. Começou por eliminar os sul-coreanos do Ulsan Horang-i. Seguiu-se o Sanfrecce Hiroshima, depois o Guangzhou Evergrande. O clube chinês treinado por Marcelo Lippi, campeão em título, também ficou pelo caminho. Por fim, o Wanderers deixou pelo caminho o FC Seoul, na meia-final.


E depois chegou o Al Hilal. A primeira mão foi em Parramatta, onde os adeptos viram Tomy Juric marcar o golo que havia de fazer toda a diferença. Seguia-se a decisão, em Riade, num estádio com capacidade para 65 mil adeptos do clube saudita, há muito em busca deste título.


Foi uma loucura o ambiente em redor do jogo, neste sábado ficaram milhares de adeptos de fora do estádio, sem conseguir bilhete. Do Wanderers estavam apenas 14 adeptos. Segundo o clube explicou, não deu para mais por causa do complicado processo de obtenção de visto para a Arábia Saudita, bem como da distância. Entre esses 14 adeptos havia apenas uma mulher.

 

Foi a viagem mais longa de sempre de um clube na história da Liga dos Campeões asiática, proporcionada pela decisão tomada, em 2006, de aceitar como membro da Confederação Asiática a Austrália, que quis enquadrar-se num ambiente mais competitivo.

 



Em Riade, o Al Hilal dominou largamente a partida e fez do guarda-redes Ante Covic o homem do jogo. Pelo meio, várias decisões controversas do árbitro, que deixou por assinalar pelo menos duas grandes penalidades favoráveis aos sauditas. O juíz era o japonês Yuichi Nishimura, o mesmo que assinalou o penálti a favor do Brasil frente à Croácia, no jogo de abertura do Mundial 2014. Do excesso de zelo nesse lance passou ao outro extremo, na decisão deste sábado.


Os adeptos sauditas reagiram em fúria, atiraram garrafas de água para o relvado, em campo a equipa insistia. Covic acabou a fazer uma enorme defesa, nos minutos finais, e a segurar o empate que sabia a vitória para o Wanderers.

 



Quase não havia adeptos do Wanderers em Riade, mas em Parramatta juntou-se muita gente para assistir à decisão, de madrugada na Austrália.


 

Seguiu-se a festa, e felicitações que chegaram de muitos pontos do mundo. Como esta, de uma grande referência do futebol australiano.


 



«Os sonhos tornam-se realidade», dizia Popovic no final, ainda no meio da festa. Mas não fica por aqui. A vitória na Champions asiática garante ao Wanderers a presença no Mundial de clubes, já em dezembro. Defronta o Cruz Azul, do México. Se vencer, segue-se o Real Madrid, na meia-final. O sonho continua.