Quer ajudar o seu clube a superar uma fase difícil mas não sabe como? Acredita que o seu filho tem potencial para vir a ser um craque do mundo do futebol mas ninguém repara nele? Gostava de mostrar ao treinador que não reparou em si nas captações daquele clube há um par de anos que ele estava enganado? Na Web Summit, a maior feira tecnológica da Europa, que passou por Lisboa entre segunda e esta quinta-feira, houve respostas para tudo isto.

Ao longo de três dias passaram pela feira muitas personalidades ligadas ao desporto. Num dos palcos do pavilhão 1 da FIL estiveram antigos Bolas de Ouro (Ronaldinho e Figo), Nuno Gomes, Rui Costa, Gianluca Vialli e ainda figuras ligadas a outros desportos, como o surfista Tiago Pires, a atleta Patricia Mamona, o pugilista inglês Luke Campbell, a antiga nadadora olímpica americana Allison Wagner, entre muitos outros nomes conhecidos do grande público.

Rui Costa, Nuno Gomes e Domingos Soares de Oliveira participaram numa conversa onde abriram um pouco mais o jogo acerca da estratégia de negócio do Benfica. Falaram sobre a aposta no Centro de Estágios no Seixal e do papel da tecnologia ao serviço da performance desportiva, deixando algumas curiosidades pelo meio: que Bernardo Silva e Gonçalo Guedes, antes de serem pagos, começaram por pagar para jogar no Benfica e que as novas gerações de futebolistas olha hoje para Renato Sanches como uma referência.

No dia seguinte, Bruno de Carvalho esteve à conversa com Ken Early, jornalista de desporto do Irish Times. A sessão durou cerca de 40 minutos (mais do que a média de todas as outras, por ser a última do dia) e durante esse tempo o presidente dos leões dissertou sobre as suas grandes preocupações relativamente ao futuro do futebol. Falou-se de valores, de ética, de fundos de investimento, do alegado afastamentos dos adeptos do futebol – «o coração do futebol são os clubes e o coração está a morrer», disse – da formação e do sonho de ver regressar Ronaldo um dia, mas também do acordo multimilionário assinado pelo Sporting com uma operadora de televisão por dez anos, o que causou alguma perplexidade ao entrevistador. «Por quê dez anos? «O mercado às vezes diz-te o que fazer. Assistimos tranquilos aos negócios do Benfica e, depois, do FC Porto. Eram dez anos: não havia nada a fazer. Só negociar quanto dinheiro podíamos ganhar nesses anos. Acho que o negócio o Sporting fez um bom negócio.» Então mas um bom negócio agora não pode deixar de sê-lo daqui a poucos anos? «É verdade! Tudo muda muito rápido», admitiu Bruno de Carvalho, assumindo-se preocupado com a proliferação de sites de streaming ilegais, que estão a prejudicar clubes e operadores.

Aos 36 anos, Ronaldinho Gaúcho está sem jogar há mais de um ano mas ainda não se considera um ex-futebolista. O antigo melhor jogador do mundo virou-se para o admirável mundo das tecnologias, é hoje um investidor em startups da área e é uma das imagens da aplicação Zoome, uma espécie de rede social onde vai ser possível seguir a vida de Ronaldinho em formato reality show. O craque brasileiro falou sobre isso, mas muito mais de futebol: passou em revista os tempos áureos da carreira, falou sobre Messi e Ronaldo e da sua academia.

Luís Figo tem a resposta a uma das perguntas lançadas no início deste artigo. Apresentou a Dream Football, um projeto online com o objetivo de que todos os jovens possam ter uma oportunidade no mundo do futebol e, no fundo, colmatar o trabalho de um olheiro tradicional. O conceito é simples: descarrega-se a aplicação no site da Dream Football e lá é possível realizar e editar vídeos dos pequenos craques e enviá-los posteriormente. Mediante a aprovação de Luís Figo e uma equipa: quem der nas vistas poderá ter uma oportunidade num dos clubes com os quais a Dream Football tem parcerias.

Gianluca Vialli também passou pela Web Summit, para falar sobre um projeto de crowdfunding (Tifosy) que criou. O objetivo é reaproximar clubes em crise dos seus adeptos e fazer com que estes seja os impulsionadores de uma espécie de renascimento. «Foi por causa do futebol que consegui comprar uma casa», esclareceu Vialli. Não era preciso mais explicações para sustentar a ideia.

De ideias altruístas passamos para modelos de negócio que geram milhões. Richard Arnold, um dos homens por detrás das operações do Manchester United, explicou algumas das razões que ajudam a explicar por que razões o clube inglês é, para além de uma máquina de fazer dinheiro, um fenómeno de popularidade em todo o mundo: está presente em 12 plataformas, 20 idiomas e chega a 80 por cento dos lares do planeta terra. Lembra-se de dizerem que os Beatles eram mais populares do que Jesus? O Manchester United ultrapassa qualquer religião, mostrou Richard Arnold com recurso a um gráfico. Perdoem-lhe a heresia.

No mesmo palco esteve a ex-nadadora norte-americana Allison Wagner, hoje em dia uma voz ativa na luta contra o doping. Allison, agora com 39 anos, explicou como poderia ter sido ouro em vez de prata nos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e ter ainda conquistado mais três ouros em Mundiais se os programas de combate ao doping fossem eficazes nos anos 90. Se a tecnologia foi utilizada como uma arma ao serviço de atletas dopados, está na hora de os derrotar, alega quem diz que em desportos como a natação entre um segundo e um primeiro lugar pode estar em jogo uma carreira.

Na Web Summit 2016 estiveram representadas quase 20 mil empresas de todo o mundo. Pelo palco da MEO Arena passaram multimilionários. Gente que transformou grandes ideias em grandes negócios. É também essa a ambição de grande parte dos responsáveis das cerca de 2 mil startups que conseguiram um pequeno espaço nas bancas desta feira tecnológica, onde deram a conhecer ideias embrionárias tentando convencer os investidores que por lá passavam.

Paredes-meias com o palco Sports Trade, que esteve montado terça e quarta-feira (no último dia deu lugar a um painel de conferências na área da saúde), estavam empreendedores à procura disso mesmo. O Maisfutebol deu a conhecer uma app virada para futebolistas amadores que está agora a dar os primeiros passos. Por lá havia um linkedin para futebolistas desempregados (In the Market, uma aplicação da portuguesa ITSector), ferramentas sobre running, outras viradas para a prática de ténis, golfe ou skate, e também um projeto de empreendedores israelitas (Aydrate): «Drink Right» é o slogan desta empresa que se propõe, explicou ao nosso jornal Dvir Bar, um dos mentores da ideia, a facilitar a vida dos desportistas através da criação de uma ferramenta que permitirá, através de um algoritmo, que saibam em que momentos (e quantidades) devem hidratar-se para não comprometerem a performance desportiva.

O mundo está a mudar, com uma série de ideias frescas no ar. Prova disso é que até já se fala de uma atividade emergente (literalmente) e com um potencial que dizem ser interessante. Adivinha qual? Corridas de drones.