Se na Liga dos Campeões o Zenit ainda não conseguiu vencer nesta fase de grupos, a nível interno a equipa de São Petersburgo atravessa um bom momento, já que nas últimas semanas derrotou dois rivais na luta pelo título (Spartak e CSKA) e isolou-se no topo da Liga russa.

Depois de algumas indefinições iniciais a nível tático, também pela ausência de alguns elementos importantes, Luciano Spalletti parece agora ter estabilizado as opções e o sistema (4x2x3x1), ainda que na visita ao Atlético de Madrid tenha apresentado um esquema de três centrais (não deu grande resultado e foi desfeito ao intervalo).

O Zenit vale sobretudo pela sua frente de ataque, muito móvel e possante quando embala. Danny, Hulk, Arshavin, Shirokov, Shatov e Kerzhakov, por exemplo, são jogadores muito difíceis de parar quando embalam. O FC Porto deve procurar, por isso, conceder o mínimo de espaço ao adversário da próxima terça-feira, ser cauteloso na forma como se expõe.

O Zenit é uma equipa que se sente confortável quando os jogos ficam partidos, pois consegue manter sempre um bom equilíbrio defensivo e depois sair para o ataque com muito perigo, em transição. Hulk e Danny são especialistas nessa matéria. Quando recuam no terreno não ajudam muito a pressionar o adversário, mas ficam à espera de uma recuperação para arrancar a grande velocidade para o ataque
[imagem A da galeria]. O mesmo se aplica a Arshavin ou Shatov, sendo que Kerzhakov é depois exímio a criar espaços. É muito frequente ver os falsos alas (Hulk e Danny, normalmente) aparecerem em zona central, perto do ponta de lança, para combinações curtas e rápidas [imagem B]. Muitas vezes até vemos Danny e Hulk do mesmo lado, sendo que depois é necessária a devida cobertura por parte dos médios mais defensivos [imagem C].

E o ataque do Zenit só não é mais perigoso em transição porque a equipa denota alguma falta de agressividade em organização defensiva. É algo passiva, deixa o adversário pegar no jogo e pensar as jogadas, algo que agradará certamente ao FC Porto. Se fosse mais eficaz a recuperar bolas em zonas intermédias, o Zenit seria ainda mais venenoso. Só que o contributo defensivo de jogadores como Arshavin, Hulk e Danny é reduzido, e os médios mais recuados também não costumam ser muito agressivos na pressão. É verdade que o Zenit até costuma manter sempre uma boa organização defensiva, mesmo quando os jogos ficam partidos, mas baseada sobretudo na coesão posicional do quarteto mais recuado e das duas unidades que jogam logo à frente.

Problemas com muralhas de uma equipa com pouco poder áereo

Em ataque organizado, e frente a equipas que se fecham bem, o Zenit sente mais dificuldades. Exemplo disso foi o jogo com o Austria de Viena, no qual a equipa russa, mesmo em inferioridade numérica, tinha obrigação de produzir muito mais ofensivamente. Os seus avançados precisam de espaço e sentem-se mais condicionados em espaços reduzidos, exceção feita talvez a Shirokov, muito perspicaz a inventar oportunidades. Olhando para o perfil dos alas habitualmente utilizados também se percebe facilmente que o Zenit não dá muita largura ao ataque. Ainda assim Danny procura mais a linha do que Hulk, com o brasileiro mais perigoso quando aparece entre linhas e depois encara a última linha do adversário.

No que diz respeito às bolas paradas os registos desta época mostram que o Zenit não é muito perigoso. Só marcou cinco vezes dessa forma, sendo que dois deles foram de grande penalidade e um livre direto que bateu na trave e depois nas costas do guarda-redes (Degra, do Paços de Ferreira). Os outros dois tentos foram de canto, mas nenhum de cabeça, o que diz que o potencial aéreo não é muito elevado. Na verdade, só Lombaerts impõe algum respeito nesse aspeto. Ainda assim na vertente defensiva o Zenit também não tem sentido grandes problemas, com apenas quatro golos sofridos de bola parada (dois dos quais frente ao At. Madrid, especialistas nesta matéria, como o FC Porto também sabe).