A divulgação das listas finais dos convocados para o Europeu de sub-21, que arranca no próximo dia 17, confirma o estatuto «especial» da seleção portuguesa, comandada por Rui Jorge. A juntar ao percurso limpo da fase de apuramento, os dados reforçam a confiança numa boa campanha na República Checa, isto apesar de um grupo com Inglaterra (primeiro adversário, no dia 18), Itália (dia 21) e Suécia (dia 24) ser desde logo garantia de um percurso difícil. Na comparação direta com os outros integrantes do grupo B, com quem Portugal vai discutir uma vaga nas meias-finais e nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, a seleção portuguesa surge bem colocada em vários parâmetros de análise, que atestam uma rodagem competitiva superior à dos adversários e ao que é habitual neste escalão.

A seleção portuguesa é, das quatro que integram o grupo B, aquela onde os seus integrantes têm mais minutos de utilização nos campeonatos principais: a média dos 23 portugueses é de 1469 minutos, contra 1380 para os jogadores da seleção italiana, 993 dos suecos e apenas 894 dos ingleses. Para este valor, Raphael Guerreiro (2769 minutos na Ligue 1), Rafa Silva e Frederico Venâncio, acima dos 2700 na Liga portuguesa, dão os maiores contributos entre os 23 portugueses.

É verdade que a seleção inglesa, que vai apadrinhar Portugal, e que já derrotou a seleção lusa num particular em final de 2014, conta, na linha de frente, com dois dos maiores destaques individuais desta edição da Premier League: os goleadores Harry Kane (Tottenham) e Saido Berahino (WBA) deram cartas ao longo da temporada. Mas  Berahino e Kane, com mais de 2500 minutos de Premier League são das poucas exceções, num cenário que tem também nos defesas Jenkinson, Chambers (Arsenal) e Stones (Everton) um relativo contraponto de experiência competitiva. Só que, no conjunto, 13 dos 23 jogadores escolhidos por Gareth Southgate tiveram menos de quatro jogos na Premier League. E sete deles não contaram com qualquer minuto de escalão principal nesta temporada.

Do lado português, por contraste, apenas os guarda-redes Bruno Varela (Benfica B) e Daniel Fernandes (Osnabruck, terceiro escalão da Alemanha) chegam ao Europeu sem jogos de divisão principal nas pernas. José Sá (Marítimo), com 270 minutos, e Gonçalo Paciência (FC Porto), com 31, são os outros jogadores lusos com menos de quatro partidas completas na Liga principal. Mas, do lado italiano, o selecionador Luigi Di Biagio tem quatro jogadores que não atuaram qualquer minuto na série A ( Trotta, Viviani, Battocchio e Sabelli) e ainda mais dois (Bianchetti e Bernardeschi) com utilização meramente episódica.

Outro dado relevante: o facto de apenas cinco dos convocados ingleses terem somado minutos em competições europeias de clubes na época em curso – por contraste, na convocatória de Rui Jorge há dez jogadores com experiência internacional de clube: Paulo Oliveira, Tobias Figueiredo, Esgaio, Tozé, Bernardo Silva, João Mário, Rúben Neves, William Carvalho, Carlos Mané e Ricardo Pereira, bem mais do que na Itália (três) e na Suécia (sete). William Carvalho, com 600 minutos entre Liga dos Campeões e Liga Europa, é o recordista português neste particular, enquanto o guarda-redes alemão Ter Stegen,  campeão europeu pelo Barcelona, leva a palma com 1170 minutos nesta edição da Champions.

No confronto direto com os adversários, Portugal leva também vantagem sobre a Inglaterra no número de jogadores que já chegaram à seleção principal: são oito, no caso português ( Paulo Oliveira, Raphael Guerreiro, Bernardo Silva, João Mário, Rafa Silva, William Carvalho, Ivan Cavaleiro e Ricardo Horta) contra apenas quatro ingleses (Kane, Chambers, Jenkinson e Stones) e nenhum italiano. Única exceção a este cenário é o caso da Suécia, onde 12 dos 23 convocados chegaram já à seleção principal, num contexto de rejuvenescimento acelerado.

De referir, ainda, que na convocatória de Portugal há sete jogadores que atuam em Ligas estrangeiras – e à exceção do guarda-redes Daniel Fernandes, todos o fazem nos escalões principais. Por contraste apenas um de Itália jogou fora de portas – no Championship - e nenhum de Inglaterra o fez. Mais uma vez, a Suécia é exceção, com 12 jogadores expatriados, embora quase todos em campeonatos secundários: Holanda, Noruega, Dinamarca, e com Quaison (Palermo) e Thelin (Bordéus) como exceções, além do avançado John Guidetti, sistematicamente emprestado pelo Manchester City nas últimas cinco épocas. Referência, por fim, para uma curiosidade: o médio português Rúben Neves (FC Porto) é, a larga distância, o jogador mais jovem da competição, sendo o único nascido em 1997.