Épico este Porto, só parado por um gigante que entra para a galeria dos malditos do futebol português. Manuel Neuer, um guarda-redes em ascensão que defendeu duas grandes penalidades depois de ter sido um milagreiro ao longo do jogo. A equipa de Jesualdo Ferreira sai de cena, deixando os jogadores portistas num pranto.
Treze anos depois de ter perdido no Estádio das Antas com a Sampdoria também nos penalties (Taça das Taças), o F.C. Porto volta a não conseguir suplantar essa vertigem. Se em 95 foi Latapay a falhar o remate decisivo, numa noite gelada e molhada, desta vez calhou a Lisandro vestir a pele de vilão. E logo ele, que tanto tinha feito para alimentar o sonho.
Ainda assim, os dragões foram gigantes, conseguiram suplantar a dificuldade de jogar quarenta minutos com dez elementos, num esforço que se tornou inglório. E manifestamente por culpa própria, porque falharam várias oportunidades para marcar. Só durante o prolongamento foram duas: aos 101, com Quaresma totalmente isolado, a permitir a defesa do guarda-redes; aos 108, com Cech a tentar fazer o chapéu a Neuer, mas a atirar ligeiramente por cima da baliza.
A festa foi toda dos alemães, que continuam a fazer história, juntando-se ao Fenerbahçe nesta Liga dos Campeões surpreendente. E surge agora um problema para Jesualdo Ferreira, que corre o risco de ter de lidar com uma equipa sem grandes objectivos até ao fim da época.
A luta interior
A esta altura do texto, por certo, já não interessará saber o que se passou realmente até àqueles momentos decisivos. Isto porque, até ao golo de Lisandro Lopez, que só surgiu aos 85 minutos, o Porto viveu a tormenta, lutando com os seus próprios demónios, num exercício de auto-flagelação difícil de emular.
A maior ameaça, porém, foi crescendo às portas da baliza adversária, com um guardião imponente, de correntes ao peito e com todas as soluções para impedir a invasão do seu reino. Do primeiro ao 85º minuto, Neuer, o miúdo apanha bolas na final de Gelsenkirchen em 2004, pôde finalmente enfrentar o seu mestre com as melhores armas, num duelo que só poderia ser fatal.
Enquanto o Porto teve a equipa toda (Bosingwa em boas condições físicas e Fucile minimamente atento), a eliminatória parecia ao alcance. Logo aos doze minutos, Tarik percebia que não valia de nada pedir a Alá uma ajudinha divina. Depois de ter visto Neuer parar um primeiro remate de Lisandro, surgiu na área isolado, recebeu o cruzamento perfeito de Bosingwa, mas cabeceou sem convicção para mais uma defesa do milagreiro guarda-redes alemão.
O Schalke pouco fazia, limitava-se a manter o esquema arrumadinho, segurando a ténue vantagem. Nos primeiros instantes do segundo tempo, Bosingwa perceberia a lesão muscular e pedia a substituição imediata. O testemunho seria passado a Mariano, que colocava a paixão argentina em campo e segurava o corredor direito até ao fim.
A exaltação
O sofrimento continuava, com Tarik a falhar novamente à boca da baliza, de cabeça, na conclusão de um livre estudado por Quaresma e Lucho. Neuer voltava a defender, por instinto. Jesualdo não podia aguentar e o marroquino sairia, dando o lugar a Farias. O Porto melhorou.
Mas, antes do céu, viria o purgatório, com Fucile a carregar a nota negativa, no pior jogo com a camisola azul e branca. Entrou à bola a destempo e foi expulso. Só que o Porto nunca desiste e Lisandro viria a marcar o golo tão almejado, num remate fantástico, quando poucos já acreditariam ser possível. Uma nova possibilidade que se abriu, mas que não evitou a eliminação.
Árbitro sem classe
Howard Webb não merecia estar neste jogo. Fraco, temerário, sem critério. Foram tantos os lances de dúvida, por isso ficam apenas dois exemplos: aos 64, Helton defende a bola fora da área, devia ter sido expulso; 80, Farias derrubado na área, grande penalidade ficou por assinalar. Mas foi nas pequenas faltas, no pormenor, no não deixar jogar, que o inglês só estragou.