Está a fazer 13 anos. A 19 de Junho de 1999, o Campomaiorense jogou uma final da Taça de Portugal. O adversário era o Beira-Mar. Aos 55 minutos, havia zero a zero, o treinador José Pereira tirou Isaías, a estrela da companhia. Nunca saberemos se foi por isso que o Beira-Mar acabou por ganhar o jogo com um golo de Ricardo Sousa. Mas sabemos uma coisa: a esperança de ganhá-lo, para os milhares de alentejanos que seguiam a partida nas bancadas ou pela televisão, esfumou-se ali. Ainda por cima o golo de Sousa foi num remate de longe, justamente a maior arma da carreira do bom do Isaías. Há questões psicológicas que ficarão sempre acima das técnico-táticas.

Tirar Cristiano Ronaldo do onze de Portugal, como já se ouviu por aí reclamar, seria mais ou menos a mesma coisa. E Paulo Bento sabe-o, portanto Ronaldo vai obviamente continuar titular e capitão.

Em relação a Ronaldo, chegou-se a um ponto em que já não é válida a teoria do copo meio cheio e do copo meio vazio. Há gente que só vê o copo vazio, mesmo que esteja acima de meio, e gente que o vê sempre a transbordar, mesmo que o rapaz falhe golos à frente da baliza. Já vi escrito (não vou jurar que no mesmo jornal) que ele é arrogante e não passa cartão aos adeptos mas também que é um exemplo de simpatia e disponibilidade. Isto só pode ser resultado de se querer ver a coisa pelo ângulo que mais convém. A razão perdeu-se, algures, nos últimos dois anos que Cristiano e Messi passaram entretidos a tornar-se cada um melhor que o outro semana após semana.

O capitão de Portugal falhou redondamente contra a Dinamarca. Falhou dois golos que não costuma falhar e falhou (muito) no acompanhamento do lateral direito dinamarquês durante mais de meia parte. Isto são factos, e contra eles só restam argumentos bacocos.

O capitão de Portugal é um dos melhores jogadores de futebol do mundo, leva oito épocas consecutivas de altíssimo nível, já deu bastante à seleção e tem todas as condições para dar muito mais. Isto são factos, e contra eles só restam argumentos desesperados.

Do lado dos argumentos bacocos temos visto e lido que os portugueses (todos menos os donos dos argumentos, claro) são uns invejosos e uns ingratos que adoram ver o Ronaldo falhar (e o Mourinho, também). Do lado dos desesperados vem o grito de "Cristiano para o banco" e "o Messi nunca falhava aquilo" (claro que podia falhar - aliás até nisso ficaram empatados na última Liga dos Campeões, cada um falhando um penálti importantíssimo).

A verdade é que Ronaldo ficou a dever alguma coisa aos adeptos portugueses depois do jogo com a Dinamarca. Está sempre a dever alguma coisa, por melhor que faça. Não se pode querer ser o melhor do mundo e ao mesmo tempo querer sofrer uma pressão semelhante à do Miguel Lopes, para citar um exemplo de cor.

Como diria um pensador, pressão a sério sentem os pais que não sabem se conseguirão pôr comida na mesa dos filhos no mês seguinte. Ao pé disso, a pressão de Ronaldo e dos outros é uma brincadeira de Playstation (coisa que aqueles pais também não podem dar aos filhos).

Ronaldo vai jogar contra a Holanda e, é certo, tentará fazer o melhor. Se conseguir, os argumentos desesperados vão para o mesmo saco onde caíram as críticas a Postiga e Varela entre o primeiro e o segundo jogo. Se não conseguir, os bacocos continuarão cá para defendê-lo com a própria vida e Ronaldo tem de ter paciência com os desesperados, porque a pressão só vai diminuir quando ele pendurar as botas.

*Editor TVI

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