Ao segundo dia de manchetes quase iguais nos três diários desportivos, Sá Pinto caiu mesmo. Da primeira vez que as informações da iminente "chicotada" saíram de Alvalade para as redações (sim, elas saem de algum lado, não são inventadas às secretárias), ficou claro o que aconteceria ao treinador no curto prazo. Bastava uma ou duas escorregadelas, que eram aliás bastante previsíveis. A partir do momento em que ninguém da estrutura veio defender publicamente Sá Pinto, percebeu-se que o caldo já estava a cozinhar em lume brando. Era (foi) apenas questão de esperar pelo momento certo para dar gás ao bico do fogão e fazer ferver a panela.

A atitude da estrutura que comanda o futebol do Sporting teve um ponto positivo, que terá sido aprendido com o caso de Domingos: ninguém veio conceder a Sá Pinto o muito comum voto de confiança envenenado nas vésperas do despedimento. Mas foi só aqui que os diretores leoninos estiveram bem. Do resto do episódio saem mal, uma vez mais.

Em ano e meio, Ricardo Sá Pinto é o segundo "rosto do projeto" a não resistir aos maus resultados. Não é novidade no futebol, claro. Mas ao fim de tantos anos os dirigentes já podiam ter aprendido a não jurar amores eternos. Se o juram, devem assumi-lo "na saúde e na doença". Há exemplos no mundo do futebol, não estou a pensar em romances. Quem manda no futebol do Sporting não só não o fez, como deixou Sá Pinto cair sozinho, desamparado. Com culpas próprias? Seguramente, sim. As exibições da equipa este ano, todas elas, não deixam qualquer espaço para elogios. Mas pedia-se outro sentido de solidariedade e responsabilidade à estrutura de topo.

O falhanço do segundo treinador do projeto tem forçosamente de dizer algo sobre a forma como as escolhas foram feitas. É um mal que vem aliás de muito longe, como atestam os 30 treinadores que se sentaram no banco do Sporting nos últimos 30 anos, com os parcos resultados que se conhecem.

Muito haverá para discutir sobre como pode o Sporting inverter o ciclo de queda em que se encontra há três décadas. Uma coisa é certa: mudar de treinador como quem muda de camisa não é o caminho, mas isso continua difícil de entender no mundo do futebol (e a culpa não é só dos dirigentes, claro - há sempre profissionais desempregados à espera da desgraça do próximo, é a lei do mercado a funcionar).

Sá Pinto não tem perfil para treinador de uma grande equipa? Ou mesmo para treinador? É discutível, como tudo. E seguramente não houve tempo para percebê-lo. Fica um facto para reflexão: em 106 anos de história passaram pelo Sporting 68 treinadores (quase metade nos últimos 30 anos, nunca é de mais repetir) e só 13 foram campeões nacionais. Os outros 55 eram incapazes?

Sá Pinto está demasiado ligado à história do Sporting e a esta direção para Godinho Lopes e todos os outros poderem assobiar para o lado como se fosse mais um treinador estrangeiro de meio da tabela a chegar, ver e sair logo. Convidar Sá Pinto para ficar num cargo menor nada resolve do ponto de vista moral. Há consequências políticas a retirar de tudo isto. Mas duvido que se retirem, até porque vai continuar a ser muito mais fácil, no futuro, deixar cair treinadores.

*Editor TVI

www.futebolcomtodos.pt

www.futebolcomtodos.com