Ola By Rise, o treinador do Rosenborg, é aquilo a que se pode chamar um bom tipo. Simpático, a vida parece correr-lhe bem. Por isso a conversa com os jornalistas portugueses, esta terça-feira, depois do treino de hora e meia do Rosenborg, só podia começar com boa disposição. Com uma enorme paciência, Ola explicou vezes sem conta como se pronunciava o seu nome. Se grande sucesso, dizemos nós, mas com evidente simpatia.

Depois começou a falar de bola e continuou bem disposto. Aparentemente, o Rosenborg não encara a tarefa desta quarta-feira como uma missão impossível. Para Ola, o drama poderia ter acontecido na Luz. «Jogámos pouco, oferecemos muitas vezes a bola ao Benfica e por isso sofremos, especialmente na segunda parte». Reconhece sem dificuldade que poderia ter deixado Portugal «com uma derrota bem mais pesada, por dois ou três golos de diferença».

Mas como só trouxe um de desvantagem, Ola faz outras contas. «Temos 90 minutos, perante o nosso público, para marcar um golo». Então e se o Benfica marcar primeiro, alguém provoca? «Mesmo assim continuarei a acreditar. Nesse caso precisaríamos de três golos e não seria a primeira vez que o conseguiríamos, mesmo em competições internacionais».

Muita bola no ar?

Este será, portanto, um outro jogo. Com muita bola pelo ar? Tema sensível. Ola não gostou que Camacho tivesse comparado o futebol do Rosenborg ao da selecção norueguesa, recentemente batida pela Espanha na qualificação para o Euro 2004. «De facto, na Luz demos essa ideia, até pela forma como não fomos capazes de manter a posse de bola, mas na verdade não jogamos daquela maneira, com pontapés para a frente».

E como jogam, então? «Normalmente, com três avançados na frente, em jogos fora de casa podemos ter cinco no meio-campo, mas eu ficaria surpreendido se amanhã visse a minha equipa actuar com dois pontas-de-lança». Divertido, este Ola. O treinador do Rosenborg explicou ainda melhor o conceito por detrás da equipa. «Não abusamos das bolas pelo ar, esse é o futebol da Irlanda do Norte ou da Escócia, não o nosso. Se não jogássemos bom futebol como teríamos o Lerkendal esgotado tantas vezes?»

Mas sendo o jogo aéreo um dos pontos fracos do Benfica não é irresistível ir por aí? Ola faz um sorriso de miúdo. «Sabemos quais são as nossas armas e saberemos utilizá-las mas, repito, gostamos de jogar bom futebol». Quer dizer, cruzamentos sim, despejar balões sobre Moreira é que nem por isso.

Fiel ao bom e velho espírito nórdico, na Luz o Rosenborg não abusou das marcações individuais, bem pelo contrário. O homem que segura o leme aproveitou a deixa para dar uma pequena lição. «Há 20 anos a Alemanha tentou jogar com um libero e mais nove homens que marcavam nove homens, mas já nem eles acreditam nisso. Eu sou adepto da zona, acredito que esse é o futebol do futuro. Cada vez me preocupo mais com o local onde os meus jogadores estão do que com a posição dos adversários».

Resumindo: Ola está «confiante», embora saiba que o Benfica não vai trazer «11 jogadores piores do que aqueles que estiveram na Luz», logo será sempre um adversário temível. Mesmo assim, deixa escapar, acha que Camacho pensará primeiro em defender o 1-0 e só depois, se isso correr mal, tratará de atacar. Amanhã logo se vê.