Há dias terrivelmente maus para Rui Costa, que não pode gabar-se de ganhar com frequência. Num sábado recente, justamente naquele em que perdeu com o Perugia no Artemio Franchi, pisou com mais força o acelerador do Porsche, pouco depois do duche, tentando esquecer a derrota na curta viagem para casa. Desconhecia ainda que os impropérios que dirigira ao árbitro, uma ou duas horas antes, lhe valeriam um jogo de suspensão. Mas a consolação estava marcada. Prostrar-se-ia diante do televisor no dia seguinte, concentrando-se nas imagens que lhe chegariam da Madeira, de um «Caldeirão» que reconhecia até pelo som ambiente.  

Jogava o Benfica e Rui estava seguro de poder afogar a mágoa do final de tarde da véspera com uns pontapés em seco, passes milimétricos para Van Hooijdonk e João Tomás. Seria só encostar. Ali, confortavelmente sentado no sofá da sala, iria ganhar. Só podia. Mas não, a equipa não o percebia, as instruções que gritava diante do aparelho de televisão não chegavam aos Barreiros. Perdeu e envergonhou-se. Quis deitar-se mais cedo. «Foram duas derrotas num fim-de-semana». Não podia acreditar. 

Rui Costa sofre, «como todos os benfiquistas». Serve-se da internet para não perder pitada do «clube do coração» e desempenha o papel de conselheiro nas respostas aos e-mails que recebe no seu site. A meio da redacção espanta-se com o pessimismo generalizado, com o derrotismo. «Antigamente, ai de quem dissesse mal do Benfica a um benfiquista. Agora, são os próprios benfiquistas a dizer mal do seu clube».  

Custa-lhe entender. Custa-lhe também detectar o Benfica em lugares perdidos da classificação. «Sinceramente, não me lembro de uma época assim». Mas encontra facilmente explicações: «Criou-se uma intranquilidade muito grande em redor do clube, que pesa imenso sobre os ombros do jogadores. Não me parece que seja pela falta de qualidade da equipa que se conseguirá explicar o momento». 

Talvez a mudança recente tranquilize o plantel, pondera. «Só o tempo o dirá». Rui diz que «os sócios escolheram o presidente como se escolhessem um treinador». «A falta de resultados», conclui, «pesou consideravelmente». Torce para que o ambiente melhore e espera que Vilarinho não tenha mais pressa do que aquela que circunstâncias do género exigem. «Pode ser um erro tentar o êxito imediato», adverte. «Um fracasso partirá o Benfica em dois». Se dependesse de Rui Costa, o Benfica faria agora «um trabalho de base», com tempo, uma espécie de «trabalho de formação», a pensar numa grande equipa que não tivesse de jogar constantemente sobre brasas. Mas ele é só um jogador, recorda-se. E da Fiorentina...