Joaquim Meirim estreou-se como treinador no Oriental, corria então o ano de 1963. Começava ali um «romance» algo conturbado com o clube e uma carreira no comando de várias equipas nacionais, marcada pelo inconformismo e pela polémica. Trinta e quatro anos de actividade com muita histórias para contar...  
 
Vinte e dois de Fevereiro de 1967. Joaquim Meirim bate com a porta no Oriental pela segunda vez em três anos. Pelo meio, o técnico prestou serviços no Atlético, mas o bom filho retorna a casa para fazer renascer a equipa após uma fase menos feliz. Em boa hora, já que o Oriental recupera e chega a sonhar com o título da II Divisão, mas Meirim interrompe o projecto.  
 
Nos jornais da época, o treinador fala da falta de disponibilidade, mas dá já um ar da sua «personalidade de excessos», deixando alguns recados que revelam descontentamento com os rumos do clube.  
 
A razão para a saída é, no entanto, outra. «Sou proprietário de uma estalagem para turistas a qual vai viver agora, a partir de Março, uma época de grande movimento», declara à edição da altura do jornal «A Bola». «Ora eu até aqui estava a deitar-me às 2 da manhã e a levantar-me às 7», acrescentava, fazendo questão de terminar com um balanço positivo da passagem pelo Oriental.  
 
Decidido a dedicar-se ao turismo, Joaquim Meirim ainda recebeu propostas de vários clubes, Sporting incluído, segundo relatam os jornais desportivos da altura. Aos «leões» agradava o currículo do técnico - Meirim tinha-se formado na federação argentina de futebol em 1959 e feito um estágio na Suécia - e as aptidões reveladas nas equipas mais pequenas e a visita à tal estalagem não tardou. Consta que não apenas para fazer turismo. Mas o interesse ficou em águas de bacalhau.  
 
Joaquim Meirim voltou sim a assumir o cargo de técnico na Cuf, depois no Varzim, equipa que orientou em três ocasiões diferentes. Mas foi na época de 1970/71 que mais chamou as atenções, ao assumir o comando técnico do Belenenses, que disse querer levar ao título. Foi no Restelo que mais perto esteve de o conseguir na sua carreira, mas depois de um bom início de época a equipa caiu muito e terminou o campeonato no sétimo lugar.  
 
Finda a época, Meirim troca os ares de Lisboa pelos do Porto para ser apresentado aos jogadores do Boavista como novo treinador. Ao lado de Valentim Loureiro, um dos dirigentes do departamento de futebol do clube, a nova aposta axadrezada é apresentada com «pompa e circunstância».  
 
«Este treinador é um presente», disse então aos jogadores Valentim Loureiro. «É um condutor de homens excepcional, verdadeiramente ímpar», continuava, assegurando que a época traria o melhor campeonato de sempre ao clube. Enquanto isso, Joaquim Meirim falava de trabalho e exigia «homens valentes» para vestir a camisola axadrezada.  
 
Mas o que se seguiu pouco correspondeu às exigências do treinador. O Boavista começou com o pé esquerdo os ensaios para a nova época, perdendo frente ao Rayo (0-2) e ao Gornik (1-4) no Torneio de Vallecano. Poucos dias depois, o F.C. Porto impôs novo desaire à equipa de Meirim, apesar dos elogios do treinador adversário, António Teixeira.  
 
Com os resultados negativos a somarem-se, Meirim e a direcção do Boavista não se entendem. A equipa perde por 1-4 contra o Sporting, mas o treinador aponta o dedo aos dirigentes do seu clube. «Felizmente não mandaram averiguar se tinha bilhete», diz Meirim em tom irónico, no final do jogo, denunciando um clima de tensão entre as duas partes.  
 
Meirim não esteve no banco e teve de dar ordens através dos jogadores suplentes. O Estádio de Lima também não servia para os treinos. «É para poupar o relvado», dizia o técnico, com a frontalidade que todos lhe reconhecem. E as derrotas continuaram a acumular-se para atingir o «confrangedor» 0-6 frente aos portistas.  
 
Sem surpresas, a carreira de Meirim pelo Boavista ficou-se por aquela época, mas teimou em continuar por muitas outras equipas, sempre com uma atitude marcada pela polémica e, depois do 25 de Abril, por posições políticas que não raras vezes travaram o seu desempenho enquanto técnico.  
 
Mas Joaquim Meirim abraçou a carreira de treinador e fez questão de ir somando conhecimentos. Em tempos de mudança no futebol português (e no país em geral), o treinador juntou-se a Medeiros, jogador do Leixões, numa visita de estudo à Europa Ocidental para «ter conhecimento de como funciona o futebol noutros países em que vigoram regimes políticos como aquele que se pretende instituir em Portugal».  
 
Os ensinamentos foram aplicados naquela mesma época no Leixões. Carlos Lopes brilhava no atletismo, Joaquim Agostinho era a esperança nacional no ciclismo. O Vitória de Guimarães festejava os 430 contos de receitas no jogo frente ao F.C. Porto (2-0). 

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