Na temporada 1993/94, Rui Barros ingressou no Marselha depois de três épocas fantásticas no Mónaco. Passou a representar uma das equipas mais poderosas do futebol europeu, que tinha do seu lado o título conquistado na edição anterior da Liga dos Campeões, mas a aventura que tinha tudo para ser colorida de sucesso acabou por ser trágica. Um escândalo de corrupção motivado pelo suborno do presidente Tapie a três jogadores do Valenciennes travou o sonho de voltar a conquistar a Europa. O agora olheiro do F.C. Porto, na altura jogador do clube, conta como foi:

- Maisfutebol - Com tantos problemas, nomeadamente depois de rebentar o escândalo de corrupção, como é que os jogadores conseguiram fazer uma temporada tão boa, ao ponto de terminarem o campeonato em segundo lugar?

- Rui Barros - Nós éramos profissionais e tínhamos de levar o clube para a frente. Foi isso que aconteceu. Mas foi pena não termos disputado a Liga dos Campeões e as finais da Taça Intercontinental e da Supertaça Europeia. Depois, o Marselha viu-se obrigado a vender jogadores em Outubro. Lembro-me que, primeiro, saiu o Futre para a Regianna, depois foi a vez do Desailly ir para o Milão. Mais tarde, partiram o Boksic e o Boli. Os que ficaram, como foi o meu caso, conseguiram fazer uma boa época. Lembro-me que foi o PSG quem acabou por ganhar o campeonato.

- Quando os jornais começaram a publicar as notícias de corrupção e a instabilidade sentiu-se no clube como é que você e o Futre, na altura colegas, reagiram a todos esses problemas?

- Falava muitas vezes com o Futre. Perguntávamos um ao outro o que ia acontecer, mas sabíamos que não íamos ficar ali. Se acontecesse qualquer coisa, podíamos ir para Itália, por exemplo, mas quando rebentou o escândalo já sabia que iria regressar ao F.C. Porto. No entanto, o Tapie, apesar de ter provocado aquela situação no clube, esteve sempre ao lado dos jogadores. Aconselhava-nos a ter calma, dizia-nos para não ter problemas, estava presente nos treinos e nos jogos. Por isso, estávamos sempre descansados em relação a tudo.

- Considera que a sua passagem pelo Marselha foi a fase mais agitada da sua carreira?

- Sim, sem dúvida. Foi agitada. Mas estava sempre tranquilo, porque sabia que iria regressar ao F.C. Porto. No entanto, tinha receio que, de um momento para o outro, nos deixassem de pagar o ordenado ou que tivesse de ir embora por qualquer motivo. Mas isso nunca aconteceu, nunca houve salários em atraso, até porque tínhamos garantias da Federação Francesa de Futebol que nos protegeu sempre. Sobre isso, não tínhamos problemas nenhuns. Além do mais, nunca nos faltou nada, nem das deslocações. Havia sempre muito rigor. Só tínhamos de treinar e mais nada. Lembro-me que só se soube que o clube ia descer, quando sai do Marselha. Assinei pelo F.C. Porto a 1 de Abril de 1994.

- Se o Marselha não tivesse sido impedido de disputar as competições europeias e de defender o título de campeão europeu, acha que aquela equipa era capaz de ser mais poderosa do que o Barcelona de Cruyff e o Milão de Cappello?

- Sim, sem dúvida. Naquela época, tínhamos uma equipa fabulosa. Tínhamos o Rudi Völler, o Boksic, o Futre, o Stojkovic, o Boli, o Sauzée, o Deschamps, o Di Meco, o Barthez, o Angloma e o Desailly. Éramos um conjunto de jogadores fabulosos. Tínhamos uma equipa muito boa, não só no onze inicial mas também alternativas capazes na segunda linha. O nosso banco de suplentes era muito forte. Tenho a certeza que, se aquilo não acontecesse, iríamos ganhar o campeonato e chegaríamos o mais longe possível na Liga dos Campeões.