Vamos lá ver: é demasiado cedo para lançar projecções, é sempre arriscado tirar grandes conclusões das primeiras jornadas, quanto mais apenas de um mero jogo. Mas a verdade é que a forma como o Paços de Ferreira conseguiu vencer o Belenenses ¿ os números e, acima de tudo, a exibição que produziu ¿ leva a imaginar que o conjunto pacense voltará a ser uma das boas equipas do campeonato. 

As mudanças foram algumas. Três jogadores cruciais na estrutura da equipa na época passada abandonaram Paços (Rafael para o F.C. Porto, Glauber para o Boavista e Marco Paulo para o... Belenenses), mas, pelo menos nesta partida, José Mota pôs o seu conjunto a jogar de acordo com o mesmo espírito: futebol força, baseado numa circulação muito rápida da bola, com muito músculo a suportar um conjunto que, no entanto, dispõe também de elementos refinados do ponto de vista técnico.  

Foi da súmula destes dois ingredientes que saiu o melhor do Paços na época passada. E essa receita parece estar para ficar. Claro que se sente a falta dos três jogadores acima citados, mas as compensações parecem ser possíveis. Uma ligeira alteração no esquema: com Rafael, o Paços tinha um meio-campo mais alargado, deixando apenas Leonardo lá na frente. Agora, Mota optou por um 4x4x2 mais linear, deixando Mauro ao lado de Leonardo.  

O Belenenses saiu de Paços com pouco de que se queixar. Até começou melhor o jogo, mas em vez de intensificar os bons pormenores que deixou no início, permitiu que o Paços se compusesse como pretendia e começasse a impor o seu jogo. A partir daí, e apesar, naturalmente, de alguns altos e baixos, o Paços teve sempre a partida controlada. 

E surge Leonardo 

O primeiro golo do Paços, além de ter recordado o sentido de oportunidade de Leonardo, selou a tendência acima explicada. Remetido à sua defesa, o Belenenses não mostrava grandes argumentos para dar a volta à situação. Inicialmente bem estruturado, o conjunto de Marinho Peres foi colocando à tona algumas deficiências de marcação da sua defesa e, sobretudo, a ausência de meio-campo. Não havia ligação na passagem da defesa para o sector intermediário e a consequência óbvia foi a perda de capacidade de criar ocasiões.  

O Paços percebia que tinha o encontro na mão, desde que continuasse a jogar como mais gosta. Após o descanso surgiu ainda mais incisivo na hora da concretização, resolvendo a questão dos três pontos em 20 minutos. Primeiro, numa grande penalidade apontada por Leonardo, que conseguiu na recarga o que desperdiçou no primeiro remate, depois na sequência de uma das melhores jogadas da partida: Zé Manel cruza para a área, para o avançado brasileiro que, como quase sempre, estava no sítio certo. 

Viva a eficácia!  

Três golos em pouco mais do que três ocasiões diz tudo sobre a eficácia de uma avançado. Leonardo vai à frente na lista dos marcadores e prova que a ajuda de Rafael não era, sequer, o mais importante na época passada. Com o 3-0, o jogo ficou decidido. O embalo pacense chegou a indiciar goleada, mas o Belenenses, num assomo de lucidez, soube travar os ímpetos adversários e denotou uma ligeira melhoria nos últimos minutos. O golo de Marcão espelhou esse esforço e repor alguma sensatez ao resultado. 

Para início de época, não foi nada mau. O jogo teve qualidade e confirmou, uma vez mais, uma tendência saudável que o futebol português vai revelando: a de que as equipas intermédias (como são Paços e Belenenses) poderem fazer campeonatos de nível cada vez melhor. É bom para equilibrar as coisas e para perceber que não é só com os grandes que se mede o valor de um campeonato.