Álvaro descobriu-o no Brasil. Aquele jeito letal de cuidar a bola, de adornar sem excessos, não previa o equívoco. Estava contratado o ponta-de-lança, um misto equilibrado de gerador de aflições e finalizador artístico, especialmente talhado para exercícios difíceis. 

Guga chegou com a época quase no fim. Na outra era titular, motivo da indisposição de Tavares, que até então fora uma espécie de indiscutível. Na velocidade, na forma deliciosa como elaborava e decompunha assistências em golos, Guga encantava, conquistava plateias. Era o ponto cortante de uma equipa assumidamente agressiva, que dispensava disfarce e pontapeava rodeios para canto. 

O Belenenses percebeu-o depressa demais. Clubes espanhóis correram a Portugal por ele. Cercado, o Gil Vicente propôs-lhe a renovação por mais 70 contos. Guga riu. João Magalhães reconsiderou e quase dobrou a proposta: mais 100 contos. Nova reunião mal sucedida e algumas insistências mais tarde, o brasileiro regressou ao Brasil sem contrato, na certeza, dizia o seu representante, de jogar no Gil Vicente, caso voltasse a Portugal. O compromisso só seria quebrado em caso de intromissão de um dos «grandes». 

Guga voltou. Não para o Gil Vicente, não para um grande, mas para o Belenenses, onde por vezes se senta no banco, ainda que acabe, quase sempre, por pisar o relvado. Ao telefone, Maisfutebol colocava-lhe outro desafio. Custava-lhe perceber o penúltimo lugar do Gil Vicente. «É muito difícil de explicar», admitiu. Um ensaio comparativo deixava-o mais perto da conclusão: «Nós tínhamos uma equipa muito compacta, sabíamos o que queríamos. A equipa de agora ainda não atingiu o ponto ideal». 

Sem esforço, Guga adivinha a recuperação, ou não conhecesse ele as práticas de Barcelos. «O mister vai puxar por eles cada vez mais», antecipa. «É o estilo dele». Mas, por mais que Álvaro implante talento e alargue a estratégia, não detecta solução para que o treinador aproxime a equipa da trajectória da época passada. Essa rota, arrisca Guga, estava perdida à partida. «Saíram jogadores muito importantes. Sete deles jogavam quase sempre», observa. «Marcávamos golos com certa facilidade, o que agora não acontece». 

Guga confessa a tristeza sem prurido. Desabafa com os confidentes errados e recebe comentários trocistas em troca. «Os meus colegas de equipa em Belém até têm brincado comigo», conta, agora numa gargalhada. Mais a sério, explica que foi o Gil Vicente que lhe abriu «as portas da Europa», que, por mais que passe, não esquecerá Barcelos. «Fico triste pelo que estão a passar», insiste, antes de reformular o discurso numa versão optimista: «Eles vão dar a volta por cima». 

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