Um golo em cima do intervalo e outro no fim chegaram para o Benfica eliminar o Zenit e seguir para os quartos de final da Liga dos Campeões, seis anos depois. A vitória chegou da maneira menos esperada: gerindo bem.

Jesus tinha previsto golos na Luz, depois do 3-2 na Rússia. Até ao segundo minuto da compensação, mesmo antes do intervalo, era difícil acreditar. Entre Benfica e Zenit, tudo encaixava. Demasiado, do ponto de vista português.

A precisar apenas de um golo, e certamente longe dos períodos de maior confiança, Jesus receitou ponderação e equilíbrio. Quem conhece esta equipa do Benfica sabe que não costuma ser exatamente este o caminho mais curto para o sucesso. Mas esta noite, pensou o treinador, teria de ser assim.

O Benfica raramente atacou com muita gente. Ou, talvez melhor explicado, raramente se desequilibrou para atacar. Maxi foi muitas vezes vizinho do lateral esquerdo russo e até Emerson teve espaço para rematar. Mas isto sucedia muito mais por causa do posicionamento adversário do que por ousadia.

Depois dos três golos em casa, Spaletti estava convencido de que repetiria na Luz o episódio do Dragão. Uma noite em branco e passaporte na mão. Sempre que tinha a bola, o Zenit preocupava-se apenas em mantê-la. Não atacava e só um erro de Artur permitiu a primeira oportunidade, já em cima do intervalo. Com mais um homem no meio-campo, o Zenit jogava de olho no marcador de São Petersburgo e no relógio do árbitro.

Foi por isso estranho vê-lo desorganizar-se. Por uma vez, o Benfica teve oportunidade de sair rápido para o ataque. O Zenit atacara com um pouco mais de ansiedade e de repente faltava gente no meio. Bruno César percebeu. Witsel também. Maxi foi com eles. No primeiro momento, tudo parecia resolver-se entre o belga e o brasileiro. Passe, remate. Malafeev defende. Fim da história? Não, a bola regressa a Witsel que de calcanhar descobre Maxi. Bom de mais para desperdiçar. Jesus começava a ter razão: este jogo teria golos. Pelo menos um. Ao intervalo, o Benfica tinha feito o que o F.C. Porto não conseguira, na fase de grupos. Suficiente?

E agora ao contrário

A segunda parte foi diferente. O tabuleiro tinha virado. Agora era o Zenit quem precisava de um golo. E era o Benfica quem estava convencido de que defendendo bem não viria mal ao mundo. Por isso começou a pensar assim mal todos regressaram do balneário.

O Zenit, com mais um avançado, e depois com o muito insultado Bruno Alves, assumiu a bola. Tal como o Benfica antes do intervalo, sem fazer as coisas demasiado depressa. Apenas procurando um espaço por onde entrar.

No estádio, o nervosismo instalava-se. A equipa não dava bons sinais. Sobretudo quando tinha a bola. Parecia desejar pouco. Não ansiava pelo segundo. Continha-se. E isso passava também para o Zenit. Por isso Jesus mexeu aos 61 minutos. Saiu Rodrigo, gasto, entrou a energia de Nolito. Gaitan foi para o meio, mais em linha com a baliza. Era preciso atacar quando houvesse bola. Sim, por que espaço existia.

Na Luz servia-se um prato poucas vezes visto: um Benfica de pensar antes de correr, de gestão, que queria ganhar da forma menos natural, sem sofrer golos em casa, coisa só três vezes vista esta temporada. Daria certo? Jesus jogava com a pouca capacidade russa para desequilibrar. Sem Danny, o Zenit desesperava por uma ideia. Aos 70 minutos, Shirokov isolou Cardozo, mas o paraguaio falhou, na cara do guarda-redes.

O Benfica melhorara com Nolito. Jesus ainda não confiava. Troca Gaitan por Matic. Sobe Witsel. Queria risco zero. Por outro lado parecia abdicar de qualquer capacidade para fazer o segundo. E convidava o adversário para sua casa. O Zenit tinha 53 por cento de posse de bola, a quinze minutos do fim. Seria preciso sofrer?

Não foi. O Zenit não tinha mais para dar. O Benfica de gestão sorria no fim, com Nélson Oliveira. Continua na Liga dos Campeões, entre os oito melhores da Europa.