O Estoril garantiu a segunda vitória na Liga 2023/24 e desfez-se da «lanterna vermelha» da competição em pleno Estádio do Dragão, reduto de um FC Porto que regressou à mediana normalidade, depois de duas das mais seguras exibições da temporada, em Antuérpia e Vizela.

A equipa da Linha não garantia um triunfo no recinto portista há uma década, desde a temporada 2013/14, quando era orientada por Marco Silva. Nesta sexta-feira, uma obra de arte de Holsgrove (75m) provocou a revolta dos adeptos azuis brancos.

FICHA DE JOGO

Os tremendos assobios que se ouviram no final do encontro não foram apenas pelo desaire nesta 10.ª jornada. Foram, acima de tudo, uma manifestação de desagrado pelo desempenho dos jogadores ao longo da presente temporada, sobretudo nos jogos em casa, em que apenas sucessivos golos fora de horas permitiram ao FC Porto chegar a esta fase numa posição competitiva.

Esta noite, numa das piores exibições da era Conceição, o Dragão não teve essa fortuna em períodos de compensação. Esgotou as sete vidas.

DESTAQUES DO FC PORTO-ESTORIL

Sérgio Conceição manteve o onze que garantiu o triunfo em Vizela, com dois golos na primeira parte do encontro (0-2). E o FC Porto teve, de facto, uma excelente oportunidade para repetir o guião da jornada anterior.

Ao quinto minuto de jogo, Volnei Feltes foi imprudente e colocou os braços nas costas de Stephen Eustáquio, na grande área, levando Tiago Martins a apitar de imediato para a marca do castigo máximo. Taremi, porém, não repetiu a dose do passado domingo, rematando algo denunciado para bela defesa de Marcelo Carné.

Vasco Seabra respirou de alívio e viu a sua equipa implementar a estratégia delineada, um pouco à imagem da estrutura que bloqueou o Benfica na Amoreira ao longo de 92 minutos de jogo, na 8.ª jornada, até ao tento providencial de António Silva (0-1).

O Estoril defendia em 5x4x1, povoando o corredor central e os flancos, deixando pouco espaço disponível para as transições ofensivas do FC Porto, prejudicada pela escassez de criatividade no setor intermediário e pouco mobilidade das unidades atacantes.

Os dragões arrancaram em 4x4x2, com Pepê na esquerda, mas o brasileiro derivou para o centro/direita no decorrer da etapa inicial, procurando melhorar a ligação entre setores, fazendo Taremi descair para a esquerda. Porém, a equipa portista não subiu de nível. Piorou, até. Aliás, por isso mesmo, Pepê voltou ao flanco canhoto no início da etapa complementar.

Francisco Conceição, tal como acontecera em Vizela, acabou por ser o principal desequilibrador da formação azul e branca nos primeiros 45 minutos de jogo, tirando partido da sua velocidade e irreverência. Assumiu riscos, tentou bastante, nem sempre com eficácia, mas sem se esconder.

Pepê (25m), Francisco Conceição (29m), Evanilson (34m) e Jorge Sánchez (45+2m) desperdiçaram as restantes ocasiões de golo do FC Porto na etapa inicial, um número interessante de oportunidades que não resultou, ainda assim, de um futebol acutilante dos dragões. Longe disso. Rodrigo Gomes (23m e 40m) também colocou Diogo Costa à prova.

Como seria de esperar, imaginando a conversa de Sérgio Conceição com os jogadores ao intervalo, a equipa da casa voltou com outra atitude para a segunda metade, aumentando consideravelmente a intensidade, sem contudo transmitir uma sensação de sufoco ao adversário.

O treinador viu-se obrigado a recorrer ao banco de suplentes para injetar sangue novo (64m), sacrificando Jorge Sanchéz, Mehdi Taremi e Alan Varela. Um reparo em relação ao médio: é um 5 à moda argentina, exclusivamente defensivo, com nítida qualidade, mas a premissa torna-se curta quando joga apenas com Stephen Eustáquio ao lado. Tem de pisar outras zonas do terreno, tal como acontecia com Matheus Uribe.

Nico González, Gonçalo Borges e Toni Martínez foram a jogo, com Pepê a recuar para o lado direito da defesa. O Estoril manteve-se fiel à sua estratégia, com uma coesão assinalável, balançando apenas quando Francisco Conceição – sempre ele – surgia em velocidade da direita para o centro.

O nulo teimava em persistir, até que Jordan Holsgrove reclamou protagonismo na cobrança exemplar de um livre direto. Perda de bola imperdoável de Nico González e falta do errático David Carmo sobre Guitane, à entrada da área. O árbitro começou por assinalar erradamente penálti, retificou a decisão e o médio escocês desenhou um arco perfeito para o ângulo da baliza de Diogo Costa (75m).

O FC Porto voltou a tentar o golo ao cair do pano, a exemplo do que tem vindo a acontecer nos piores momentos, desde o início da temporada, mas não foi bafejado desta vez pela felicidade.