O selo de qualidade foi deixado por aquele que, para muitos, é considerado o melhor piloto de sempre do MotoGP: Valentino Rossi. O «Doutor», como é apelidado, deixou a sua receita: Marc Marquez é mesmo o seu sucessor.

«Ele é como eu, mas melhorado. É o último modelo». A frase é de Rossi. Uma das muitas que foi deixando ao longo da época ao, agora, campeão do mundo de MotoGP. Mesmo em equipas distintas (o italiano está na Yamaha e o jovem espanhol na Honda), Rossi nunca teve problemas em traçar-lhe rasgados elogios.

Começou por dizer aquilo que todos queriam ouvir: «Não é exagero dizer que é o meu sucessor». Os indícios, afinal, estavam lá. E agora são mais visíveis que nunca.

Marc Marquez tornou-se, este domingo, o mais jovem campeão de sempre do MotoGP, aos 20 anos. É, também, o primeiro estreante na categoria a vencer o título logo no primeiro ano, desde que Kenny Roberts o fez em 1978. Já lá vão 35 anos.

E Marquez conseguiu-o com uma performance de sonho. Não foi sorte, foi mestria. Afinal de contas, subiu ao pódio por 16 vezes, igualando o recorde absoluto que era de Valentino Rossi, por três vezes (2003, 2005 e 2008), de Jorge Lorenzo, na temporada passada e de Casey Stoner, em 2011.

Ao todo foram seis vitórias, seis segundos lugares e quatro terceiros. Cavou uma diferença agradável logo no início, aproveitou os períodos de ausência do companheiro Dani Pedrosa e do rival da Yamaha Jorge Lorenzo, por problemas físicos, segurou a vantagem e sagrou-se campeão.

Tudo isto num ano que deveria ser de aprendizagem. Marquez chegou ao MotoGP em 2013 depois de se sagrar campeão da classe Moto2, uma espécie de II Divisão, na temporada anterior. As regras tiveram, inclusive, de ser alteradas.

Até ao início deste ano, as equipas oficiais (atualmente Honda, Yamaha e Ducati) não poderiam ter «rookies» nas suas fileiras. Mas a Honda queria mesmo Marc Marquez, a escolha para render o bicampeão do mundo Casey Stoner, que anunciara o abandono. Pressionou e a sua decisão foi validada. Aposta ganha, percebe-se agora.

«Tem todo o potencial para ser o melhor de sempre»



Apesar do percurso fulgurante desde que se estreou no Moto3, antigo campeonato de 125cc, esta é a primeira vez que Marquez vence o campeonato no ano de estreia. Precisou de três anos para ser campeão da terceira categoria e só à segunda ganhou no Moto2. Vem em evolução, portanto.

A meio do ano, quando as vitórias de Marquez se sucediam e a surpresa ameaçava tornar-se realidade, Valentino Rossi continuou na toada de elogios ao miúdo que conhecia desde criança.

«Só vejo uma solução para travar as vitórias dele: mandá-lo para a Fórmula 1» , sugeriu. Semanas mais tarde voltou à carga: «O melhor mesmo era suspendê-lo dois ou três anos.»

Quando falava mais a sério, Rossi mantinha a ideia essencial: estava a nascer uma estrela. «O Marc tem todo o potencial para conseguir ser o melhor de sempre. Pode ser melhor que eu, com mais vitórias que eu, porque tem muito talento e coragem. E é muito jovem. Ainda é cedo para o dizer, é um caminho longo, mas tem quase 100 por cento de hipóteses de o conseguir», vaticinou.

Defendeu-o em momentos polémicos, como numa ultrapassagem arriscada no Grande Prémio de Espanha, em Jerez, com Jorge Lorenzo. O rival não gostou. Aliás, ao longo da época sucederam-se as críticas ao estilo agressivo de pilotagem do jovem Marquez.

O próprio Dani Pedrosa, companheiro de equipa, chegou a perder a paciência. Caiu em Aragão após duelo com Marquez e fez sentir a sua insatisfação. Lorenzo tentou acirrar o problema. «Foi incrivelmente divertido ver Pedrosa voar», atirou.

Marquez tremeu um pouco, é certo. Foi desclassificado na Austrália, num erro da equipa, perdeu pontos por «pilotagem irresponsável» e foi comparado ao malogrado Marco Simoncelli, no que foi encarado como uma forma de o tentar pressionar. Mas conseguiu segurar a vantagem e nem precisou vencer a última corrida, em Valência, para ser campeão. Bastou o terceiro lugar.

Batismo em Portugal e três títulos em quatro anos



Ao todo, esta época, somou ainda nove «pole-positions» e onze voltas mais rápidas. Um ano de sonho para preencher uma carreira ainda curta mas com um ponto de origem bem conhecido: o circuito do Estoril.

Foi em Portugal, a 13 de abril de 2008, que cumpriu a sua primeira corrida no Mundial de Motociclismo, na categoria Moto3, na altura. Tinha 15 anos.

Não venceu, mas não precisou esperar muito para deixar uma marca ao garantir uma «pole» e um pódio no ano de estreia. Nunca ninguém tão novo o havia feito.

A primeira vitória chegou em 2010, com uma Derbi, em Mugello. Nesse ano venceu o primeiro título Mundial. Em 2012 repetiu a façanha, uma categoria acima. Agora tem o mundo do motociclismo aos seus pés e ameaça ser a estrela dos próximos anos.

E Espanha ganha, também, uma nova referência numa modalidade em que domina cada vez mais: este ano os campeões das três categorias do MotoGP foram pilotos do país vizinho.