Os Mundiais de Atletismo de 2003 começaram este sábado em Paris e já ganharam uma mascote. Bem se pode dizer que é assim. No primeiro dia de competição, Lima Azimi tomou posição na pista para correr os 100 metros e tornou-se na primeira mulher afegã a competir num Mundial.

À terceira eliminatória, as câmaras voltaram-se para o dorsal 1. Entre calções de lycra e ténis altamente testados para as grandes competições, apareceu uma rapariga com calças de fato de treino e uma t-shirt bem parecidos com aquele equipamento do chamado atleta de fim-de-semana. As câmaras já não a largaram.

Ali mesmo ao lado estavam a veterana Merlene Ottey e a campeã dos Estados Unidos, Kelli White, que vai para tentar o ouro nos 100 e nos 200 metros. Mas foi Azimi quem continuou a chamar a atenção por não se entender com os blocos de partida.

Azimi explicou depois qual foi o problema. «Só comecei a fazer atletismo há três meses e só tive duas sessões de treino com blocos de partida antes de chegar a Paris», contou aos jornalistas, que quase se esqueceram das principais estrelas da eliminatória. «A situação no meu país é muito difícil por causa dos Talibans. Vocês conhecem os Talibans, certo?», perguntou.

Azimi é uma estudante universitária de Literatura Inglesa. Tem 23 anos e só há pouco lhe foi permitido fazer desporto. «Eles decidiram ter mulheres no voleibol, primeiro, depois na ginástica e agora no atletismo. Só sou autorizada a treinar uma vez por semana, quando a universidade é aberta às mulheres», explicou.

Para chegar a Paris a vida também não foi fácil. Primeiro foi preciso convencer os pais, depois fazer a primeira viagem de avião. E, pelo meio, na viagem de táxi para o aeroporto, ainda perdeu os ténis. «Levava os meus ténis num saco de plástico e esqueci-me deles no táxi que nos levava do hotel para o aeroporto, em Azerbeijão», contou. E assim teve de fazer compras em Paris. «Escolhi uns ténis azuis e brancos, mas eram muito caros. Custavam 60 euros. Talvez isso não seja caro par vocês, mas, para mim, é muito dinheiro. A federação pagou gentilmente os meus ténis.»

Já agora, Azimi fez um tempo de 18.37 segundos, que pode bem ser o pior tempo de sempre nos 100 metros. Mas, mesmo assim, é o seu melhor registo pessoal. A jovem de 23 anos só não sabe se vai contar aos pais. «Provavelmente não lhes vou dizer nada quando regressar porque corri tão lentamente. Foi tão mau», desabafou.