O dia 11 do Mundial-2014 em cinco pontos (parte II, após o Portugal-EUA):

1.
Que desilusão. Que estranho sabor a 2002, quando tudo parecia indicar que iríamos evitar tal repetição. Não era fácil reagir ao massacre de Salvador, mas houve seis dias para o fazer. E o início do encontro até parecia indicar que o essencial tinha sido corrigido. Mas foram mesmo dez minutos de «sol enganador» para as tormentas que nos esperavam. Durante anos, foi hábito ver a Seleção jogar bem mas perder. Mas isto nem «vitória moral» é. Portugal não soube aproveitar o 1-0 tão cedo, não segurou a bola, convidou os EUA a acreditarem na reviravolta. É certo que Portugal «começou e acabou a marcar».  O resto foi para esquecer: má organização, mal fisicamente, não saber gerir, jogo inteiro de coração nas mãos. EUA inteligente na reviravolta e ainda sem perceber como permitiu aquele 2-2 de Varela. Acreditar, ainda? É melhor não. É que as contas estão mesmo muito complicadas. Os 4-0 que levámos da Alemanha voltam a ter peso. Com uma diferença de golos um bocadinho melhor...

2. Melhor entrada no jogo era impossível. Portugal concentrado, com bola, a tentar chegar lá sem arriscar demasiado. Nani atento a aproveitar: 1-0!! Parecia que nos esperava uma noite relativamente tranquila. Nada disso. Ótimo marcar tão cedo, mas seria fundamental manter bola, jogar como se ainda estivesse 0-0. Impedir que EUA esboçassem reação. Não foi isso que sucedeu. Portugal fez quase toda a primeira parte em sofrimento, em défice, a perder a bola, a evitar o pior. De coração nas mãos. Desorganizado. Durante anos, foi hábito ver a Seleção jogar bem e não ganhar. Hoje foi um pouco o oposto: jogámos mal mas passámos boa parte do jogo a ganhar. A lesão precoce de Postiga voltava a lançar o fantasma das lesões. Teve que se queimar uma substituição muito cedo no jogo, Éder voltou a entrar de emergência, mas o sinal era negativo Ronaldo teve livre direto já perto do intervalo, podia ser o 2-0, a coisa ficava bem mais fácil. Mas não, a bola muito por cima. Estava visto: íamos sofrer muito para conseguir ganhar aos EUA. Na segunda parte, surgiu o pior. E os pormenores, ai os pormenores: Bruno Alves no chão, a pôr em jogo Dempsey no 2-1... 

3. Carlos Queiroz disse um dia, antes da qualificação para o Mundial-2010 e depois de uma derrota por 2-6 com o Brasil num particular, que precisava de saber quem ia com ele «para a selva». Paulo Bento precisava de se salvar na Amazónia e, pelo menos neste primeiro de dois combates decisivos, falhou no teste. Ainda não caiu, mas falhou o essencial. É que era mesmo preciso ganhar. Quem viu o Gana com a Alemanha percebe que será dificílimo vencer, quanto mais... por muitos. Depender de um triunfo da Alemanha (e por dois ou três) sobre os EUA, é ainda mais problemático. Respeita-se a via de escolher um onze que tem tudo a ver com o percurso desta Seleção até agora. Beto é opção correta sem Patrício. André Almeida foi a opção possível à esquerda (não faz grande sentido pensar agora se devia estar Antunes nos 23). Veloso e não William no onze terá sido a escolha mais contestável. 

4. A condição física dos jogadores portugueses é preocupante. Hugo Almeida, Rui Patrício e Coentrão lesionados no encontro com a Alemanha; Postiga e André Almeida nesta partida com os Estados Unidos. Para o encontro com o Gana vai haver menos tempo de recuperação: é já na quinta, menos dois dias de diferença do que o período do primeiro para o segundo jogo. Tantas lesões, tantos jogadores em dificuldade. É certo que nesta fase da época não há milagres e, sim, as condições climatéricas pioraram o cenário. Mas quem viu o jogo de ontem entre Alemanha e Gana e viu o modo como Portugal acusou a fadiga e teve que reduzir a velocidade em tantos momentos do jogo, é assustador. Dará para melhorar até quinta?

5. Antes do duelo de Manaus, em Porto Alegre, no Arena Beira-Rio, houve mais uma prova de que este está a ser o Mundial dos golos e dos jogos inesperadamente interessantes. Coreia do Sul-Argélia, duelo mais fraco de um dos grupos teoricamente mais fracos? Na teoria, podia ser. Na prática, deu num 2-4 para os argelinos, com a seleção do Magreb a afirmar-se como forte candidata ao segundo lugar do grupo H (depois da derrota da Rússia, que parte para a terceira jornada com um só ponto). Slimani abriu o ativo, Haliche fez o segundo, ao intervalo a Argélia já ganhava 3-0, no segundo tempo os asiáticos tiveram boa reação, mas . A destoar as boas surpresas das exibições das duas equipas, mais uma má arbitragem, com erros graves (pelo menos duas grandes penalidades por assinalar, uma para cada lado). Pois é: parece justificada a dimensão de 32 seleções numa fase final de um Mundial. É que não está a haver equipas «fracas», mesmo.

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MF Total. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.