«Um dia vieram-me dizer que o Niemeyer é o Pelé da arquitetura. Nada disso: eu é que sou o Niemeyer do futebol» (Pelé)

Oscar Niemeyer, o arquiteto que concebeu Brasília e desenhou o Sambódromo do Rio de Janeiro, morreu ontem, aos 104 anos, ao lado da esposa, Dona Vera.

Figura consensual do século XX brasileiro, será lembrado como o poeta da curva, o criador de impossíveis. «Quem visitar Brasília pela primeira vez, pode até dizer que não gostou ¿ mas não pode dizer que já tinha visto algo parecido. E arquitetura é isso, é invenção», explicava o mestre.

Geralmente, os arquitetos não se enquadram no mundo do futebol. Mas como qualquer bom brasileiro, Niemeyer era uma exceção e adorava apreciar um bom jogo.

Tal como na arte, o futebol exige criatividade. Não é, por isso, de admirar que o génio de Niemeyer se interessasse pelo belo jogo.

Na sua mocidade, ainda nem tínhamos chegado à década de 20 do século passado, Oscar chegou mesmo a representar o seu clube do coração, o Fluminense (na foto, podemos ver Niemeyer com a camisola representativa dos 100 anos do primeiro Fla-Flu). Só nas camadas jovens, é certo, mas com direito a envergar a camisa do Flu.Há registos de presenças do então menino Niemeyer, com 11 anos, a representar os infantis do Fluminense, em julho de 1918.

Um tio, a quem chamava «Nhônhô», era dirigente do clube tricolor e encaminhou o pequeno Oscar para os encantos das quatro linhas (nessa altura, só do relvado e não do ateliê).

Intelectual respeitado, inovador das formas imprevistas aplicadas ao concreto armado, político comprometido com a ideologia comunista que perfilhou até ao fim, Oscar Niemeyer foi, também, um homem do desporto.

Eternamente jovem, Oscar Niemeyer não viverá para ver concluída uma das obras em que apostou nos últimos anos da sua brilhante carreira: o Museu Pelé, que imortalizará, em Santos, outra lenda do história coletiva do Brasil.

O museu terá a forma de uma bola e vai exibir todos os golos apontados pelo Rei, primeiro jogador na história do futebol a ultrapassar os mil tentos. Niemeyer já o concebeu, mas não assistirá à inauguração.

Também por isso, até o presidente da FIFA, Sepp Blatter, lamentou a morte do arquiteto brasileiro, chamando-lhe «visionário»: «Oscar Niemeyer influenciou a arquitetura do Brasil como nenhum outro na criação de sua capital a partir do zero», notou Blatter.

No dia em que o Brasil chora a morte de um dos maiores rostos de sempre da sua cultura, é bom recordar que Niemeyer foi, entre tantas outras coisas, apenas mais um brasileiro que adorava ver uma boa partidinha de futebol.