O futebol dos cobradores de cotas e dos sócios da casa. Dos reformados que se chateiam de manhã e fazem as pazes à tarde. O futebol dos estudantes que faltam às aulas para ver treinos.
O futebol do estádio com portas abertas o dia todo. Onde se pode entrar de manhã e sair à noite. Com um bar que serve vinho branco, jogos de sueca e conversas sobre o Leixões.
O futebol dos jogos ao domingo à tarde, nas ondas da rádio e com luz natural. Da bancada ao sol e da bancada à sombra. Com senhoras que lêm revistas e homens que vêem a bola.
O futebol dos treinos à porta aberta. Para sócios e jornalistas. Quinze minutos, meia-hora, uma hora ou hora e meia.
No Leixões há senhoras que limpam o estádio de graça porque gostam do clube e há responsáveis que trocam dedos de conversa com os adeptos à entrada do departamento de futebol.
Há jogadores da terra, dirigentes da terra e sentimentos de gratidão. Há gerações de famílias. E há mulheres, muitas mulheres. Apenas porque é o Leixões. De Matosinhos.
Há jogadores que falam por telefone e não são castigados. Que dão entrevistas e que tiram fotografias sem publicidade por trás.
No Leixões há sócios que vivem o clube e sabem o que se passa lá dentro. Há jogadores que cumprimentam os adeptos. Que pisam o mesmo chão e se cruzam.
Há memórias do mar. Há bairrismo e há orgulho. Não há manias de grandeza, mas há sentimento. Há respeito pelos palavrões, pelas irritações e pelas contestações.
Há conversas francas, amuos, arrufos e discussões. Há gente que dá a cara e corre riscos. Há exaltações. Há ameaças. Há agressões, se for preciso.
Mas há sobretudo um clube de janelas abertas. Sem nada a esconder. Um clube que mantém o respeito perante a essência do futebol. Nas vitórias ou nas derrotas. Existe maior sinceridade do que esta?
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as segundas e quintas-feiras
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