«Vontade, dedicação, resiliência e trabalho». Estas são algumas das caraterísticas que José Moreno considera preponderantes para alguém que, tal como ele, quer dedicar a sua a vida ao futebol, mas de uma maneira criativa: através do freestyle.

O que é o Freestyle? José Moreno explica ao Maisfutebol. «É uma vertente futebolística que consiste em fazer truques com a bola, sem deixá-la cair ao chão. Fazer truques que tenham dificuldade, criatividade, controlo, estilo e ritmo.»

Licenciado em Desporto, José nunca previu que a sua profissão passasse pelos «truques» de bola, por isso mesmo decidiu integrar o curso na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa.  O destino, pensava, passaria pelo futebol tradicional, «possivelmente» para se tornar «treinador de futebol.»

«Se me dissessem há cinco anos que me iria tornar num freestyler profissional, a fazer truques com a bola, eu não acreditaria. Na altura estava na universidade, entretanto já terminei a licenciatura e não avancei para mestrado.  Posso vir a ser treinador de futebol. É uma coisa que sempre pensei, já tenho o Nível I de treinador. Esse é um dos projetos que posso vir a aprofundar, mas no futuro. Neste momento, o foco é o freestyle, porque é a minha grande paixão e é o que eu mais gosto de fazer», conta José.

A ligação do freestyle com o futebol profissional

Foi há cinco que tudo começou, quando deu a primeira volta ao mundo. Na altura, José ainda estudava. A partir do gosto pelo futebol, descobriu o «lado criativo» que lhe estava associado e desde aí, nunca mais parou. Treinar foi, desde esse momento, a palavra de ordem. Segundo José, esta é uma modalidade que «não é para todos».

«Fui investigando pela internet a história que existe deste desporto próprio. Há competições, atuações, entre outras coisas. Gostei muito do lado criativo do futebol, de fazer truques. Fui treinando. Através da internet fui vendo que há, de facto, muitos freestylers pelo mundo inteiro, fui entrando em contacto. Fiz meetings com freestylers portugueses e também com muitos de outros países. Treinei com eles. Tudo isto ajuda muito à nossa evolução, sendo que na internet há muitos vídeos: uma pessoa vai vendo, vai praticando, o tempo passa e ficamos cada vez melhores.»

O primeiro passo, esse, José acredita ser o gosto pelo futebol. «Todos os freestylers começam a partir daquela ligação ao futebol, que existe efetivamente». Mas se por um lado há semelhanças, por outro são «coisas absolutamente distintas.»

«Os futebolistas não conseguem fazer isto, a maior parte dos meus truques. Conseguem fazer alguns, mas como não treinaram, é normal que não consigam. Da mesma forma que eu jogo futebol, jogo bem com amigos e tal, mas não consigo ser profissional. Não consigo que haja algum clube a pagar-me para jogar futebol. Mas no freestyler consigo ser profissional, consigo sustentar-me. Por isso sim, são diferentes.»

E se o palco do futebol tradicional é dentro das quatro linhas, o cenário que abrange os freestylers é, principalmente, a rua. No seu caso específico, a Rua Augusta, em Lisboa. É lá que muitos passam por ele e o confundem com um futebolista, chegando mesmo a abordá-lo nesse sentido: «Perguntam-me se eu jogo futebol num clube. É das perguntas que mais recebo», confessa.

«Sinto-me como se estivesse a viver um sonho»

Até aos 20 anos, o futebol fazia parte dos seus planos, até que descobriu esta «paixão» - adjetivo que usa para caraterizar o freestyle -, e  hoje em dia o  seu «gosto principal» tornou-se o freestyle. Uma coisa que não acontecia há anos, mas que acontece agora, mesmo gostando de futebol e continuando a acompanhar a modalidade.

Nesse sentido, fez disso a sua profissão. Uma carreira profissional que teve início há dois anos, quando participou num torneio que a Liga Portuguesa de Futebol organizou em Braga, na funzone da final four da Taça da Liga.

«Foi um torneio de freestyle, eu fui lá, ganhei e, consequentemente, trouxe um troféu para casa. Esse foi o meu grande momento, de certa forma, no freestyle. Tive a sorte de ganhar essa competição e, a partir daí, as coisas foram surgindo.»

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Street performing clips ⚽️🔥✌

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Desde esse dia, José Moreno participa em eventos, essencialmente de índole desportiva, com atuações. Já atuou em escolas, para listas de Associações de Estudantes, por exemplo, em torneios de futebol, jogos de futsal e noutros eventos desse tipo. Recentemente, esteve envolvido num anúncio de uma empresa multinacional, filmado no estádio do Restelo, que vai passar na altura do Euro2020. É assim que faz do freestyle a sua carreira profissional e, consequentemente, toda a sua vida.

«Neste momento sinto-me como se estivesse a viver um sonho, porque estou a ser pago por algo que eu amo fazer. Uma mensagem que gosto de deixar às pessoas é que sigam as suas paixões, porque, como se costuma dizer, quando trabalhas no que gostas, nunca vais trabalhar um único dia da tua vida. Eu sinto que há muitas pessoas que trabalham no que não gostam, devemos seguir as nossas paixões, foi isso que fiz.»

Freestyle, uma perspetiva de futuro?

Assim sendo, a sua ocupação profissional é mesmo esta: fazer truques com a bola, que ao mesmo tempo o permite viver a «paixão» que sente pelo freestyle. No entanto, em Portugal são poucos aqueles que, como José, apostam nesta profissão. Isto também porque «na Europa, Portugal é um dos poucos países onde não existe competição regular» da modalidade.

Dessa forma, e com o objetivo de divulgar o seu trabalho e «mostrar ao mundo» o freestyle, utiliza a rede social instgram como um portefólio para quem quiser conhecer a «criatividade do futebol», nomeadamente os truques e a dificuldade de cada um. Funciona como uma carta de apresentação, pois o propósito, esse, é «ter cada vez mais espetáculos e, sobretudo, crescer.»

«Pretendo demonstrar e divulgar a modalidade e ajudá-la a crescer. Mas desde que me consiga sustentar a partir desta minha grande paixão já me sinto feliz e realizado. Quero evoluir, ser cada vez melhor, fazer mais e melhores truques», reforça.

Um objetivo que atinge passo a passo, na esperança de que as oportunidades surjam e a agenda se preencha, até porque em Portugal é «uma modalidade pouco divulgada», sendo exatamente fora do país que a «magia» acontece.

«A grande competição do futebol freestyler é a Redbull Street Style. Há a nível nacional e depois mundial. Existem muitas competições, mas em Portugal infelizmente não», explica José.

«Esperemos que a Liga organize mais competições, porque isso ajuda a divulgar a modalidade. Mas, infelizmente isso não tem acontecido.»

Perante este cenário, já ponderou sair do país para competir lá fora e, apesar de ainda não o ter feito, vinca que essa possibilidade está «certamente nos planos», sendo «um objetivo a cumprir a longo prazo».

É natural do Alentejo, mas fez de Almada a sua casa e, perspetivando o futuro, a voz não treme e a resposta é dada prontamente: «É óbvio que isto é uma coisa que não vai dar para toda a vida, quando eu tiver 50 anos não vou estar ainda a atuar, provavelmente não terei capacidade física para isso», explica.

Até lá, a receita é simples: alimentar a profissão. Uma ocupação profissional que vive «de atuações, do público, das oportunidades», mas sobretudo «do trabalho, do treino e do querer viver essa paixão», conclui.