No final do jogo os jogadores lançam o treinador ao ar, numa cama elástica de braços que o devolve aos ares numa ondulante celebração. O momento mágico vivido no Estádio dos Arcos confirma a ideia de influência de Nuno Espírito Santo na excelente época do Rio Ave, que culmina na passagem à final da Taça de Portugal e consequente entrada na Liga Europa da próxima época (para além de disputar a Supertaça).

Há 30 anos que os vila-condenses não vão ao Jamor e da última vez o técnico também era um ex-guarda-redes: Félix Mourinho, o pai do «special one». A 1 de maio de 1984 viria a disputar a final com o FC Porto e perdeu por 4-1. Na equipa alinhava Rui Casaca, atual diretor-técnico do Sp. Braga, que esta quarta-feira estava sentado no banco contrário e viu a sua equipa perder.

Ter um ex-guarda-redes como treinador de sucesso é coisa rara e Nuno parece estar a começar a trilhar um caminho único, servindo-se da experiência como jogador em clubes como o V. Guimarães, o Deportivo da Corunha, o Dinamo de Moscovo e o FC Porto. Foi na Invicta que voltou a encontrar um Mourinho, José, que em 2002/03 o contratou para fazer sombra a Vítor Baía. No final dessa época, na final da Taça UEFA, o guarda-redes então suplente foi importante para conter o ímpeto de um jogador do Celtic Glasgow, como conta José Mourinho num dos seus livros.

«Ao balneário os jogadores chegaram todos em turbilhão, consequências das picardias luso-britânicas originadas pelo franco-africano Baldé, que quis comer o Ninja, o brasileiro Derlei, e acabou por levar com um monstrinho nascido num berço ao lado de Dom Afonso Henriques. Grande Nuno, grande guarda-redes, um homem magnífico que impôs a ordem quando foi preciso - e sem deixar dúvidas a ninguém.»

Nuno não jogou tanto como gostaria na sua carreira, mas foi construindo uma ideia de respeitabilidade nos plantéis que liderou, sempre como o homem da sombra, aquele que atuava no grupo sempre que fosse preciso. Vimaranense de coração, foi promovido a sub-capitão no FC Porto quando regressou em 2007 para terminar a carreira. Um dos seus últimos atos públicos nessa condição aconteceu a 20 de fevereiro de 2010, quando deu voz à revolta da equipa perante os acontecimentos no polémico jogo com o Benfica, em que surgiu o caso do «túnel da Luz».



Depois das experiências como adjunto de Jesualdo Ferreira no Málaga e no Panathinaikos, Espírito Santo decidiu abraçar a carreira de técnico principal na época passada, assumindo o risco de orientar o Rio Ave, quando o clube passava por uma fase de grande instabilidade. Com a ajuda de Jorge Mendes, o seu amigo de sempre, o super-agente que o levou para o Deportivo (a transferência que serviu de afirmação para o empresário), Nuno soube construir uma equipa quase do zero.

Hoje, os vila-condenses vivem um dos dias mais importantes do seu historial e sabem que até ao fim da temporada podem preparar a final da Taça com tranquilidade (uma vez que o campeonato já não tem nada a decidir para o seu lado) e até começar a pensar na próxima época, sem entrar em loucuras, mas com a certeza que há uma Supertaça para disputar e uma presença na Liga Europa para honrar. Para Nuno estarão reservados outros voos, com certeza permitidos pelo dedo adivinho de Jorge Mendes.

Até 18 de maio os adeptos podem sonhar com o futuro, recordando o passado.



Uma última palavra para Eduardo, o guarda-redes do Sp, Braga e um dos que poderá ser chamado por Paulo Bento para o Mundial (mas em disputa aberta com Anthony Lopes). Mal batido no 1-0, quando demorou a cobrir o seu lado da baliza no livre apontado por Ukra, não conseguiu desviar a bola para fora no remate que deu o 2-0, vendo-a embater ainda no poste e resvalar para dentro da baliza. Protestou consigo próprio e desesperou após o apito final de Soares Dias.

Prostrado no relvado, teve a certeza que podia ter feito mais. O treinador Jorge Paixão tentou levantar o corpo mole, enquanto do outro lado um outro guarda-redes, agora treinador, voava nos braços dos seus jogadores, sonhando com uma outra carreira de sonho.