Para Rúben Neves não podia ter sido melhor: uma oportunidade, um golo, uma vitória, entrada direta na história desta edição 2014/15 da Liga. 

O golo é o facto mais saliente da noite, mas é também o menos importante. Os golos muitas vezes dependem de acasos, de sorte. São a um tempo tudo e algumas vezes quase nada.

Rúben Neves não foi o miúdo que marcou um golo. Naquela posição, a mais importante em qualquer equipa, um jogador não pode ser apenas um golo. O relevante disto tudo é que Lopetegui não confiou num jovem da formação para um lugar na frente ou nas laterais. Pediu-lhe que fosse o centro de tudo, o «6». Mais do que o golo foi impressionante a serenidade, a coragem de aparecer para rematar, a integração e as boas decisões que tomou.

Em nenhum momento do jogo Rúben Neves pareceu ter 17 anos. Esse foi o facto mais relevante da sua exibição.

Claro que isto foi apenas um jogo. Vai precisar de muitos outros. Ele pode não parecer um miúdo de 17 anos, mas isso não autoriza a que todos nós o esqueçamos. O percurso está apenas a começar, mas é fantástico ver um jogador desta idade ter uma oportunidade num clube como o FC Porto, infelizmente tão afastado daquele que deveria ser um dos seus caminhos fundamentais: promover o que é seu, o que produz em casa.

A carreira de um jogador é resultado de quatro factores: o talento que possui, a capacidade de trabalho, as oportunidades e a sorte.

O talento é o que o distingue.

O trabalho é o que lhe permitirá competir ao mais alto nível.

As oportunidades dependem das opções de treinadores e dirigentes.

A sorte tem sobretudo a ver com as lesões. Infelizmente, muitas vezes carreiras promissoras foram paradas por afastamentos prolongados.

Se olharmos para os onzes de Benfica, FC Porto e Sporting nas últimas épocas percebemos que apenas em Alvalade os jogadores da formação têm merecido oportunidades sólidas de treinadores e dirigentes. Tal facto tem a ver com diversos factores, que não cabem neste artigo.

É cedo para saber se Rúben Neves terá direito a uma verdadeira oportunidade. Para já creio que podemos apenas dizer que os sinais deixados por Lopetegui são muito bons. Olhou para o médio, viu ali um jogador e foi capaz de o preferir a Casemiro, um emprestado pelo Real Madrid, o que demonstra coragem.

NOTA: lançar um jogador da formação é o melhor ato de gestão. Todos os clubes portugueses deviam ser capazes de fazer chegar ao plantel principal um jovem da casa, a cada duas épocas. Não o conseguir significa que algo está profundamente errado: a  qualidade de trabalho, a relação entre os treinadores da formação e o treinador principal e  a política desportiva.