Bill Struth foi o segundo treinador da História do Glasgow Rangers. E foi o maior de todos os que sentaram no banco do clube escocês. Houve vários técnicos que conheceram sucesso, mas nenhum como o homem que orientou a equipa durante 34 anos.

É o lugar de Struth que Pedro Caixinha agora ocupa. O técnico português chegou a Glasgow na época passada, mas já com intuito de lançar a presente, que nesta quinta-feira começa.

Para 2017/18, contratou compatriotas, como Fábio Cardoso e Dálcio Gomes, que se aventuram pela primeira vez fora de Portugal, ou como Bruno Alves, internacional A português e com vasta experiência de estrangeiro.

Também contratou um velho conhecido: Daniel Candeias. Que nos transporta para a grandeza do Rangers, «o clube com mais títulos do mundo» e que ao fim de cinco temporadas ausente está de volta à Europa.

A primeira mão com os luxemburgueses do Progres Niedercorn é nesta quinta-feira e espera-se que o Ibrox vá encher…como sucedeu quando o clube teve de disputar a última das divisões do futebol escocês.

Caixinha: apenas o terceiro

Havia dois nomes que se distinguiam na História do Rangers. Dick Advocaat e Paul Le Guen. Um holandês e um francês que eram, até há pouco, os únicos treinadores estrangeiros do emblema de Glasgow.

Pedro Caixinha tornou-se no terceiro e está otimista para esta quinta-feira, conforme dão a entender as declarações em conferência de imprensa. «O estádio esgotou há dois dias, portanto há entusiasmo pelo regresso à Europa. Desejamos dar aos adeptos uma boa exibição, um jogo e uma qualificação fantásticas. Esperámos demasiado tempo por este momento e queremos mostrar que temos uma boa equipa.»

Daniel Candeias faz parte da ideia de boa equipa de Caixinha. O extremo português fez o último jogo na Turquia no dia 4 e o Rangers, curiosamente, começou os treinos para 2017/18 no dia seguinte. Mas quando o convite para jogar por este treinador e clube chegou, Candeias nem hesitou.

«Quando soube do interesse do Rangers fiquei entusiasmado e quis que se fizesse o mais rápido possível», disse à MF Total. Candeias revelou que foi o próprio treinador que lhe apresentou o projeto para devolver o emblema ao topo do futebol escocês e a ser, de novo, uma referência no panorama europeu.

Em 2011/12, o clube entrou em insolvência e caiu nas divisões inferiores da Escócia. Os adeptos, porém, nunca o deixaram perder tamanho e importância, enquanto o rival Celtic aproveitou para ganhar todos os campeonatos desde então.

Ainda assim, quando renasceu, o Rangers fez-se grande de novo. «Já conhecia o Rangers de quando era mais pequeno, que era o principal clube da Escócia. Quando se chega aqui, vê-se que é um clube grande, com uma estrutura muito boa, com um centro de treinos fantástico. É entusiasmante para qualquer jogador. Ainda para mais, o estádio está sempre cheio.»

Ibrox é, sem dúvida, um dos motivos de grandeza do clube protestante – por oposição ao Celtic, cuja base de apoio vem da comunidade católica. Quando o Rangers se estreou no quarto escalão do futebol do país, havia 49.118 pessoas no recinto. Recorde mundial, claro, para um patamar tão baixo.

Daniel Candeias sublinhou o que muita gente sabe. O Rangers «é um emblema histórico». O extremo português também frisou o que poucos podem ter noção: «É o clube com mais títulos do mundo.»

No que toca a campeonatos nacionais, ninguém iguala os 54 que o Rangers tem. Há o Linfield com 52, na Irlanda do Norte, e o Peñarol com 50, no Uruguai. O outro lado da Old Firm tem 48.

Há mais, ainda assim: porque à liga, os Teddy Bears juntam 33 taças da Escócia e 27 taças da liga. Ninguém ganhou mais tripletes do que eles. São tantos títulos que o Rangers dá-se luxo de partilhar o campeonato nacional de 1890/91 com o Dumbarton.

A prata que o Rangers tem no museu traduz-se em orgulho dos adeptos. «Já senti que é um clube enorme, tive a oportunidade de estar na cidade e há uma grande atmosfera em torno do Rangers», garantiu Candeias.

«Depois do primeiro jogo, essa atmosfera será ainda maior, estou ansioso para jogar em Ibrox», acrescentou o jogador português à MF Total.

Candeias foi inserido na equipa disponível para a pré-eliminatória com o Progres Niedercorn, embora Caixinha tenha referido que atletas que chegaram depois de 5 de junho fiquem fora das opções. Uma decisão que poderá ter a ver com o nome do adversário desta noite também.

«Já temos algumas informações sobre o adversário, mas o treinador ainda passará mais. Estamos a analisar ao detalhe, sabemos, claro, que no Luxemburgo as equipas normalmente não são profissionais, têm muitos amadores. Mas não se pode menosprezar ninguém no futebol de hoje em dia», considerou Candeias.

O título europeu e a suspensão da UEFA

O Celtic é o único clube escocês que é campeão europeu. Fê-lo, inclusive, em Lisboa. Mas o Rangers também tem história nas provas da UEFA. Um passado de glória na Taça das Taças, mas cuja final com o Dínamo Moscovo em 1971/72 ficou ensombrada.

O primeiro sinal do que ia suceder em Camp Nou aconteceu após o 1-0, de Colin Stein. De repente, o relvado em Barcelona encheu-se de kilts escoceses e camisolas do Rangers, em celebração.

Com o 3-2 final, os adeptos do clube invadiram o relvado e obrigaram toda a gente a resguardar-se nos balneários. Por isso mesmo, o troféu foi entregue numa sala de Camp Nou e…o clube banido das competições europeias.

A suspensão durou uma temporada, mas a última vez que o Rangers teve relativo sucesso na Europa foi em 2007/08, quando perdeu a final da Taça UEFA para o Zenit.

A última presença foi amarga: derrota na pré-eliminatória da Liga dos Campeões e, logo de seguida, na da Liga Europa. A anunciar os maus tempos que aí vinham.

Nesta quinta-feira, o Rangers pretende que o céu volte a ser mais azul. «É uma pré-eliminatória, mas queremos mostrar que a equipa tem qualidade. Os adeptos vão empurrar-nos porque queremos resolver o assunto já», declarou Candeias, que concluiu que «o clube está a dar passos sustentados» para voltar ao que era.

Pedro Caixinha e os jogadores que orienta poderão estar muito longe em tempo e glória dos anos de Bill Struth. Mas podem estar muito perto das palavras do grande treinador do Rangers.

O nosso sucesso, adquirido, concordarão, pela habilidade, atrairá mais pessoas do que nunca para vê-lo. E isso irá beneficiar muitos outros clubes para lá do Rangers. Deixem os outros vir atrás de nós. Congratulamo-nos com a perseguição. É saudável para nós. Nunca nos esconderemos disso. Nunca iremos ter medo. Inevitavelmente, teremos os nossos anos de fracasso, e quando eles chegarem, devemos revelar tolerância e sanidade. Apesar dos dias de ansiedade que nos possam surgir, iremos emergir mais fortes por causa dessas provações a serem superadas. Essa tem sido a filosofia dos Rangers desde os dias dos valentes pioneiros.