A diferença entre treinar na Ásia e em África, com voodoo pelo meio
Crónicas Made in Portugal
O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:
EDUARDO ALMEIDA, T-TEAM (MALÁSIA)
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«Olá a todos.
Cá estou a escrever novamente, desta vez para abordar um pouco as diferenças entre Ásia e África, a nível cultural e desportivo. Ao recordar o passado e analisar o presente, considero que existem diferenças entre treinar nos dois continentes.
Em África, conheço bem a realidade de Tanzânia e Quénia. Penso que não diferente muito da maioria dos outros países. Por norma, são países pobres em que o futebol é pura paixão. O jogador africano tem talento e o futebol para ele é tudo. Jogar fora de portas é o sonho de qualquer um.
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O início da viagem estava previsto para as 6 da manhã mas só arrancámos às 9. Era uma viagem de 18 horas e seria feita, segundo o plano, num autocarro de 40 lugares, com ar condicionado, etc. O autocarro que arranjaram só tinha 20. Lá fomos quatro em pé.
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Iniciámos um verdadeiro safari, passando por reservas e por selvas. Ainda nos atrasámos mais vinte minutos porque uma senhora girafa (sim, uma girafa mesmo) não queria sair do caminho. É complicado mas não deixa de ser lindo observar estes animais.
No dia do jogo fomos no nosso autocarro para o estádio. Lá chegados, o motorista começou a fazer manobras para entrar de marcha atrás. Pensei que haveria pouco espaço lá dentro, mas enganei-me. Entrámos de marcha atrás, demos duas voltas ao campo, numa pista de terra batida, e parámos. Parámos mas ninguém podia sair do autocarro.
Porquê? Voodoo. Tínhamos de esperar que o senhor do voodoo fizesse o seu trabalho. Só que estava um calor insuportável e decidi sair antes. Moral da história? Perdemos por 1-0 e parecia que a bola não queria entrar. Nunca tinha visto algo assim.
Não sei se o voodoo existe mas sei que algo de estranho se passou nesse dia. Essas situações são frequentes em África e é algo a que nos temos de adaptar, faz parte da vida das pessoas.
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Devo dizer que adorei a minha passagem por África. A Tanzânia é um país lindo e com muito talento por ali perdido. Há muitos jogadores de qualidade e para mim um está acima da média: Mbwanna Samatta. Foi o melhor marcador da CAF este ano, nomeado para melhor jogador africano a actuar em África e internacional pelo seu país.
Acho que os clubes portugueses deviam ver este e outros talentos que surgem nesses países. Não coloco em causa a qualidade do jogador português, que é imensa, mas se for um atleta de fora que possa trazer mais qualidade, deve sempre ser bem vindo.
Um abraço e até breve,
Eduardo Almeida»
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