Alexis: a fuga à miséria e à poluição pelo deserto de Atacama
Lado B
Lado B é uma rubrica que apresenta a história de jogadores de futebol desde a infância até ao profissionalismo, com especial foco em episódios de superação, de desafio de probabilidades. Descubra esses percursos árduos, com regularidade, no Maisfutebol:
Alexis Sánchez entrou em 2014 com um hat-trick na goleada do Barcelona frente ao Elche (4-0). O Barça é Messi e Neymar, Xavi e Iniesta, mas não se esgota nesses nomes. Há espaço para o Miúdo Maravilha, o chileno que fugiu à miséria e à poluição pelo deserto de Atacama.
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Tocopilla está a mais de dez mil quilómetros da Catalunha. Longe de Santiago, a capital do Chile, a cidade com 25 mil habitantes é um epicentro de improbabilidades.
Nas suas costas está o deserto mais árido do mundo, à sua frente o imenso Pacífico e em seu redor duas Centrais Termoelétricas que sustentam a atividade mineira mas provocam danos na saúde da população.
Em 2007, sem surpresa, a terra natal de Alexis Sánchez foi catalogada como Zona Saturada de Contaminação. O avançado cresceu nesse contexto, com poucos meios de subsistência e um destino provável de obscuridade.
Nascido a 19 de dezembro de 1988, o Miúdo Maravilha refugiou-se no futebol e escapou assim ao álcool e às drogas, vícios que se entranham em grande parte daqueles gentes, perdidas numa das cidades mais isoladas e pobres do Chile.
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Com oito anos, ainda viajou para Rancagua com um tio, inscrevendo-se numa escola de futebol pertencente à Universidade Católica. Porém, não suportou a distância (cerca de 1,700 quilómetros) e, 24 meses depois, regressou a casa.
Os dias eram agora passados entre a escola E-10 e o campo do bairro de Capitán Orella. Alexis queria ser profissional de futebol mas continuava preso às origens, a Tocopilla, longe de tudo.
Na cidade, o seu talento começava a ser reconhecido e surgiu um convite do Arauco de Tocopilla. «Quando o fui ver pela primeira vez, vi um miúdo fraco, mal alimentado. Mas jogava muito! Nesse mesmo dia, fui falar com a sua mãe para o levar para o clube», recorda o primeiro treinador, Alberto Toledo.
Alexis Sánchez tinha agora espaço para crescer mas faltava-lhe algo básico. Seria o Alcaide da cidade, Alexander Kurtovic, a emocionar-se com a história e a pagar do seu bolso o primeiro par de chuteiras.
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Nem tudo aparecia de mão beijada, longe disso. Entre a escola e os treinos, o Miúdo Maravilha ia até à porta do cemitério local para lavar os carros ali estacionados em troca de algumas moedas para a sua subsistência.
O jovem apresentava, naturalmente, traços de uma infância marcada pelas dificuldades. «Era indisciplinado, chegava tarde aos treinos e não passava a bola aos colegas de equipa nos jogos», admite Alberto Toledo.
O treinador da equipa principal, Nelson Acosta, deixou-se encantar pelo juvenil e, em poucos meses, o Miúdo Maravilha fez a sua estreia no principal escalão do futebol chileno. Não havia limites para o talento, rapidamente detetado pela Udinese.
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O emblema italiano esperou pela maioridade, colocando o jovem no Colo-Colo e, depois, no River Plate da Argentina. Entre 2008 e 2011, Alexis Sanchéz comprovou a sua qualidade em Udine. O Barcelona bateu à porta. O menino de Tocopilla cumpria o seu sonho.
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Em dezembro de 2013, Alexis Sánchez voltou a assumir o papel de Pai Natal, distribuindo presentes pelos miúdos da terra. Para além disso, financiou a reconstrução de cinco campos de futebol na zona. Tudo para ver outro Miúdo Maravilha a desafiar as probabilidades.